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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos
A MINHA VERDADE SÓ QUER APRENDER

A MINHA VERDADE SÓ QUER APRENDER

Olhando para os homens e mulheres do meu tempo eu percebo que nada é estático ou perene, pois tudo caminha na esteira de um tempo, que transcende aos ciclos das vidas unitárias, pois elas podem ser encadeadas nos mistérios enovelados dentro das dimensões imemoriais, pois que ele, o Tempo, tudo pode e tudo faz sem dever explicações, pois que tudo há acontecer tem um caminho multifacetário já previsto e sem acasos, aguardando cada passo escolhido em nosso peregrinar.

Isso me faz lembrar do xadrez, que muito me divertiu nos idos colegiais, onde a cada jogada encetada o enxadrista necessita calcular e ajustar novos caminhos para seus peões, bispos, cavalos, torres, rainha e rei, senão verá o xeque mate se agigantar perante os olhos, se os passos perpetrados não buscarem se antecipar aos possíveis tropeços ou percalços que os ardis do seu oponente lhe propõem.

Cada jogador, frente a um tabuleiro, enxerga o "front" de acordo com suas experiências anteriores e estratégias de jogo, procedendo os caminhos que acha correto, com base em seu cabedal doutrinário, que está bem guardado no armário de sua cachola.

E eu penso no quanto a vida é mistério, pois nada acontece no hoje sem um nexo causal enraizado no antes, já que a verdade nunca será absoluta, se a abstração é inerente a ela e à realidade singela, que se põe à nossa frente.

Queremos definir o hoje e o agora apenas flertando com a matéria, sem olhar para o carvão, que esteve no antes de todo diamante encontrado nas entranhas da Terra.

Se pensarmos além do alcance das nossas retinas, veremos que a terrina já vinha com a sopa desde o momento em que roubamos o fogo, alçado pelos raios que os deuses lançaram, fazendo-se necessário uma reflexão: se nascemos sem nada saber e mesmo assim escalamos a Babel, sem usar um rapel, é porquê o ensino de tudo emanou de alguém que guardou o aprendido e nos transmitiu por amor, mesmo que o conteúdo tenha a assinatura própria do tal professor.

E é por isso que ao liquidificarmos as frutas pro suco, é mais do que justo que filtremos no fim, retirando as sementes e o bagaço, ingerindo apenas o néctar, como os guarás o fazem ao furar as melancias, buscando o miolo e o gostoso da fruta.

Mas eu volto ao discurso ideal, onde a realidade de cada pessoa define a verdade que defende ou propõe. É por isso, numa vida marcada por início e fim, que devemos ter o cuidado de sabermos lidar com as verdades pretendidas, pois a realidade pode se mostrar turva pelos nevoeiros que as estações nos propõem, pelo efeito das translações, onde fico a imaginar como Deus vê a nós, já que ele está muito além do que vejo, ou que sinto e sonho, pois só Ele tem o tudo do antes, do hoje e do amanhã, sem nem mesmo precisar ouvir o som do acauã, que em todas manhãs se mostra fúnebre, para os que acham ser seu canto o chamado para o além.

Mas quem aguenta a verdade nua e crua, já que a mentira pode estar com suas vestes?

Por isso é que a sinceridade incomoda até ao justo, se o mesmo não estiver preparado para a realidade. Pois essa realidade tem suas próprias verdades, constituídas pelo tempo, como as rochas e escarpas só se mostram bem depois que todos os ventos desnudaram-lhes a face, que estava nas entranhas de um solo que se move e se desdobra nos impulsos e rompantes que o coração do nosso planeta propõe às nossas placas tectônicas, sobre o oceano de magma, que queima, dança e nos aquece, inflamando os mesmos ventos, juntamente com as rotações sobre o próprio eixo imaginário, que não nos permite terraplanar as nossas vidas, interpretando as parábolas, as quais não podem ser ao pé da letra, pois Deus não escreve, só inebria.

Por isso eu vivo a abstração, em contraponto à concretude, que quer moldar o inefável - se conflitando com os solstícios de verão e inverno - me dando a chance de aceitar ser partícula, num gozo por toda vinícola, colhendo as uvas para um vinho especial, que nos faz um imortal pelos atos praticados e não apenas idealizados, pois chegará o dia em que terei que me prostrar ao Criador de tudo isso, que permitiu ser eu um hóspede que apenas almeja não ser esquecido, pois vim à mesa pra ceia eterna, após a noite em cama boa: serei um fóton a caminho do Sol, se a minha verdade só quer aprender?


Publicado no Facebook em 02/09/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 09/04/2020
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