SE UM COGUMELO FOSSE CHAPÉU
SE UM COGUMELO FOSSE CHAPÉU
Se eu olhasse para as flores de Hiroshima,
Não seria como um adorno,
Pois não vejo mais jardins,
Nem o choro de uma menina.
Eram as pétalas caídas,
Nas feridas sem consolo,
Onde nem temos um bolo,
Para cear na despedida.
Foram-se os tempos de vergonha,
Em que os homens se respeitavam,
Pois a desonra feriu a alma,
Dos que lutaram obstinados.
Eis que as velas são tortura,
Pros que padecem suas perdas,
Que se foram ante a peleja,
Já que há cogumelos maus.
Se no ontem o mundo dormia,
Sem ver a morte num flagelo,
Hoje eu vejo os crânios nus,
Por todo átomo que ardia.
Não há mais cheiro sem as flores,
Nem uma grama no jardim,
Não vejo o amor dos querubins,
Não há mais anjos, ó meus senhores!
Haviam pássaros canores,
Que embalavam o amanhecer,
Só nos restando o padecer,
Das sinfonias sem os tenores.
Eu temo os dias de todo luto,
Que nos aguardam a realidade,
Vivendo a paz e olhando a guerra,
Que desespera a humanidade.
Pois Deus nos fez para concórdia,
Se somos frágeis no conceber,
Sem ser preciso o padecer,
Já que queremos misericórdia.
E os cogumelos são saborosos,
Se fatiados numa salada,
Em estrogonofe servido à mesa,
Sem uma beleza atomizada.
Se o champignon e o cogumelo,
Fossem libelos de realeza,
Seria beleza rompendo o ar,
Para nutrir e não matar.
Seria o ápice de um jardim,
Se um cogumelo fosse chapéu,
Nos sombreando, nuvens ao céu,
Num fim de tarde sob o luar.
Espero a brisa olhando o mar,
Na esperança de ver nascer,
Um novo mundo a verdejar,
Com Hiroshima a florescer.
Publicada no Facebook em 29/08/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 09/04/2020