O SUSSURRO DO VENTO NAS FRESTAS DOS MEUS SONHOS
O SUSSURRO DO VENTO NAS FRESTAS DOS MEUS SONHOS
Imaginei-me numa senzala,
Nas entranhas da Casa Grande,
Aonde o vento sussurra tão quente,
Bem diante da voz que se cala.
Mas calado eu gemo ainda,
Na berlinda da voz que me deixa,
Se a queixa não dou porque morro,
Num suspiro levado ao vento.
Só que tento me ver sem olhar,
Pois espelhos não há no lugar,
Onde estou a gemer e queimar,
Em um vento de fogo, meu Deus!
E as frestas que as pálpebras deixam,
Em meus sonhos se vão inocentes.
São sementes que choram agora,
Pois é a hora em que as portas se fecham.
E os sussurros do vento não param,
Pois preparam o cálido fim,
Dos meus sonhos que vão pelas frestas,
Sem as festas que eram pra mim.
Pois deviam me dar liberdade,
Que Izabel prometeu num Senado,
Mas acharam que eu era um fardo,
E sem lar, fui pro morro do além.
Hoje sei o que é ser escravo,
Alforriado que fui, sou ninguém,
Onde sou cidadão execrável,
Por nem ler, valho só um vintém.
E meus sonhos se vão ao relento,
Nem o vento já quer o meu bem,
Se não sussurra mais pelas frestas,
E já não ouço, pois morri sem Amém.
Apenas quero a sua saudade,
Como verdade da vida comum,
Onde o vento levou a idade,
Pois jovem pereço sem motivo algum.
Mesmo que a flor nascida na cova,
Farfalhe suas pétalas bastante feliz,
Serei raiz para a liberdade,
Que deve ter, mesmo uma meretriz.
Publicada no Facebook em 26/08/2019