ERA UM PORTO E EU NEM VI
ERA UM PORTO E EU NEM VI
Era noite ou era dia,
Eu devia estar dopado.
Nem sabia que um dia,
Andaria em terreno emaranhado.
Cheguei lá desde um ontem,
Carregado pelas rodas,
Que rodaram sinuosas,
Rumo ao sul de um Estado.
Passam matas de cacauais,
Que quase não vejo mais,
Só os chifres de animais,
É que beiram os cercados.
Tudo ia muito rápido,
Vez que eu já não andava.
Era levado muito rápido,
Pelo moço que guiava.
De repente era meu filho,
Que estava no volante,
Meu semblante era de arrepio,
Pois eu teria um mar defronte.
E fomos perfurando os caminhos,
Sem espinhos e com asfalto,
E como num sobressalto,
Vi um escriba e pergaminhos.
Me contaram que ele usava,
A pena e um tosco potinho,
Rabiscando na escrivaninha,
Tudo o que ele imaginava.
Eu estava lá, bem em frente ao farol,
Sem saber se havia sol,
Pois nem a noite percebia,
Era só a agonia, mesmo com um girassol.
Estive num Porto que foi Seguro,
Mas não sei se é seguro o que penso leviano,
Mesmo sob leves panos,
Que cobriam o meu corpo.
Sem pisar em suas areias,
Eu me sinto absorto, frente toda maresia,
Que Neptuno vem soprando.
Me deixando como ferro, corroído e em quebrantos.
Vou me vendo dilacerado,
Era um dopado em frente ao mar,
Como um touro no açougue,
Com as vísceras abertas,
Pronto para o esquartejar.
Nem sei mais o que eu vejo,
Só lamúrias dos meus pares,
Pois na família são milhares,
Que padecem pela busca, de um mero conhecer.
E esse dom que é divino,
Poucos entendem por não ter,
O preparo do vernáculo e o tirocínio,
Pois escrevo de modo vil e intempestivo,
Mas nem todos são de ler.
Esses tempos são de flashes,
Onde a escrita é alfarrábio,
Tudo à mão e não no armário,
Hoje se vê e logo logo se esquece,
Pois no dia que amanhece,
Apaga a noite que se foi.
E os malandros se aproveitam,
Dessas mentes tão voláteis,
Sugam-lhes o bolso, mesmo à tarde,
Pois da noite nada resta,
Nem a festa e o gozo, pois foi tudo pra latrina.
Vão pra festa mendigar,
Pois de dia a lhes roubar,
Os políticos e autarquias,
Como hienas e harpias,
Nem deixaram o capim para cear.
Que saudades das vielas,
Onde só passavam andarilhos,
Pois hoje vejo autopistas,
Mas não sinto o ser humano.
E a vida vai ao vento,
Sem deixar que o meu sonho,
Se enraize momentâneo,
Pra o amor crescer com viço.
Hoje é tanto rebuliço,
Traições e desenganos,
Que nem creio em ser humano,
Já prefiro é ser um bicho.
Publicada no Facebook em 15/07/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 08/04/2020