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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
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ENVEREDANDO NO MEU JARDIM CATINGUEIRO

ENVEREDANDO NO MEU JARDIM CATINGUEIRO

Adentrei pelos meus sonhos enigmatizados na caatinga verdadeira, esvoaçando pela tortura das fendas e depressões que me atentam pra sucumbir, quando tenho que enfrentar as jornadas de minha vida e do meu espírito galopante, que não quer se ver diante dos destinos inquietantes que os espinhos e cravos tão romanos, tentam me furar a consciência e o senso de justiça, que só mesmo os sertões de minha caminhada é que podem responder e buscar mensurar, se os danos dos rasgos da embrenhada permitirão que o sangue derramado seja pouco e não deixe o que cicatriza se esvair ou entupir as artérias do meu tirocínio astral.

E vou enveredando no meu jardim catingueiro, onde vejo na minha senda o que nem todos podem ver. Seja no couro cor de terra da minha brejeira onça suçuarana, que em outras plagas poderia ser um puma, ou naquele ente que já foi praga no Egito, mas hoje eu vou no grito para o grilo espantar, e eu poder transpor as fendas que atravessam os paredões rochosos que me levam muito além.

É assim, com a força de uma águia catingueira ou a beleza gritante de uma ararinha-de-lear, que mantêm seus ninhos bem no âmago de lugares que nem todo forte brasileiro é capaz de perambular, pois um flamboyant pode florir no fim do mundo, mas nem todo mundo pode ir lá para gozar, pois entre a caatinga e a beira mar, racha o chão e hibernam as árvores, se desfolhando para a seca enfrentar, como eu também tenho que suportar os mesmos cravos e espinhos que me ferem e transpassam a minh'alma como espadas a me empalar.

Mas o que busco, no sangrar de meus sacrifícios, é me livrar de toda inveja e heresia que vislumbro durante os inquietantes flagelos e martírios que enfrento nos meus pesadelos, sob os sóis ardentes e cruéis dos dias límpidos de céus anis, em que só tenho as sombras frágeis dos ipês amarelos, unidos ao vermelho dos flamboyants que vieram de Madagascar. Nessa jornada o que sobra, e é resto, são só galhos retorcidos e sofridos, que se protegem com espinhos vigorosos que cerceiam nosso trilhar.

Ali, no sequeiro em que encontramos uma licurioba, um juá ou um umbuzeiro, quem reluta em viver são os jericos e cabras, as cascavéis e tanajuras, sem falar nos mocós e preás que se escondem do calor inclemente nas fendas das rochas e buracos onde os tatus também procuram, para a noite aguardar, pois é quando eles vão visitar seus "amigos" cupins e as donas formigas, para um banquete bem juntinho aos seus amigos tamanduás.

E há quem pense que ser gente, num ambiente tão hostil, pode ser com cheiro forte, dos gambás que são notívagos, mas gostosos são os figos que colhemos vez em quando, como as pinhas, siriguelas e a cajarana, ou o ingá que dá comprido e pode ser como a banana, nos fartando em ser manjar.

Hoje eu sei que a caatinga é de um contraste tão medonho, que eu vejo nela o paraíso misturado com o purgatório, como se ao mesmo tempo eu vivesse entre os bichos (que posso prever e amar sem preconceitos), ou estivesse entre os seres humanos - fora do meu clã familiar - em quem não posso confiar, pois são mais feras bestiais do que possam imaginar todos os jornais, que nos retratam como sendo os seres mais fatais que posso encontrar nesse meu lar, que Eu devia decantar como o Éden, mas padece sem ser o paraíso, porquê a maldade está no cerne de nossas almas, nos pondo a se esvair em sangue, que maculamos a todo momento, sem mesmo pensarmos que não nascemos sabendo odiar, mas aprendemos isso até mesmo dentro do lar, já que o amor está dormindo a hibernar, sem predispor a festejar, até que olhemos para o altar, onde a sublime onipresença do Criador está com seus olhos a marejar lagrimas de tristeza, pelo rumo que estamos trilhando, nos desencontrando no labirinto de ódio de nossos algozes.

Quem sabe um dia, no sem fim da eternidade que não percebemos tão presente, junto dessa agonia em que vivemos, encontraremos as nossas flores mais bonitas para enfeitar nosso jardim, como o pólen do maracujá delicia o mangangá e as abelhinhas mandaçaias, uruçus e jitaís, para poder ser polinizado e nos presentear com seu néctar, que sorveremos junto com o mel que escorrerá pelos favos das colmeias, benfazejas e medicinais a nos curar, para que a vida seja não de dor e tristeza, mas seja enfim de alegria, que só o amor pode nos dar.

Publicado no Facebook em 02/06/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 07/04/2020
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