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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
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ATÉ QUANDO RESISTIREMOS AO BRADO: "OLHA O GÁS!"

ATÉ QUANDO RESISTIREMOS AO BRADO: "OLHA O GÁS!"

Neste exato momento, em algum recanto desse nosso amado Brasil, alguém está a usar um velho fogareiro, instalado numa cozinha esfumaçada, onde o telhado já está negro, de tanta fuligem acumulada, como se fosse uma pintura, onde o céu seria uma noite escura, sem estrelas e nublada pra chuva torrencial.

Desde muitos anos atrás, os quais remontam aos meados do século XX, que a sociedade brasileira avança para usar cada vez mais o gás proveniente das refinarias de petróleo, adaptado para o uso, tanto industrial como doméstico, onde tivemos o GLP envasado em botijões, que hoje tem o padrão de treze quilos, mais conhecido como P13.

Mas era o Brasil, em seu doce sono num berço esplêndido, um importador de petróleo e seus derivados. Não fosse Getúlio Vargas, estaríamos ainda muito atrasados, pois ele soube negociar num momento crucial da Segunda Guerra Mundial, a participação brasileira, em troca de benefícios que romperiam o bloqueio de um passado de atraso, que foi vivenciado pela república.

Aí, surgiram a CSN - Companhia Siderúrgica Nacional e a Refinaria de Duque de Caxias e de Mataripe, que impulsionaram a indústria nacional, principalmente porquê favoreceu a instalação de montadoras de veículos automotores, além das demais utilidades que o aço tem como matéria prima.

A partir desse evento, da Era Vargas, o processo de ramificações rodoviárias se ampliou, ligando o país através de uma malha viária, deixando a alternativa ferroviária de lado, pois achavam que era mais custosa.

Então, veio Juscelino, que queria cinquenta em cinco, e viabilizou os projetos da época do império, de construir a capital brasileira no centro oeste do País. Todavia, para tornar realidade tão grande projeto, ele teve que fazer concessões aos lobos, esquecendo que o futuro das relações dos lobos com os cordeiros é danosa para uma das partes, que no caso eram os cidadãos brasileiros perante os lobos das multinacionais. Na época faltaram cimento e aço para a nação, já que toda a nossa capacidade instalada, que era tacanha, fora direcionada para o grande empreendimento, idealizado arquitetonicamente por Niemeyer.

E tudo ia razoavelmente andando, quando nos tornamos alto suficientes na exploração de petróleo. E digo isso, por motivos que todos os nossos cidadãos não podem aceitar, que é ver o grande achaque das famílias pobres do Brasil, ao se impor um valor exorbitante para o gás de cozinha ou até para os combustíveis que movem os veículos, que impactam diretamente na sobrevivência financeira dos lares do nosso povo, já que o diesel está imbricado no custo de produção nacional.

Com uma renda per capta miserável, o que era um direito ou uma conquista social passa a ser um pesadelo para os que não sabem mais viver sem tais benefícios. E assim, corremos o risco de sairmos à rua, ouvindo alguém, de forma bem jocosa, a gritar "olha o gás!". E quando isso acontecer, já será tarde demais para o arrependimento, daqueles que não sabem escolher seus governantes, se deixando influenciar por lorotas até mau contadas, anedotas sem graça e deboches com o próprio povo eleitor.

Para os mais afetos às ciências sociais e antropológicas, foi fácil identificar para onde o barco estava sendo levado, enquanto outros se deixavam conduzir por enganosas embarcações, com timoneiros falastrões à lá "Popeye", acreditando ainda na força anormal do espinafre norte americano.

E aí, "olha o gás!" nos evoca que só teremos a chance de não voltarmos a ser lenhadores se acordarmos para vencer o descaso que as autoridades constituídas possam ter, não deixando-as esquecer que não são eternas, mas sim efêmeras, alinhadas apenas a um lapso temporal, que tem início, meio e fim.

E "olhar o gás!" passa a ser não o que pensamos como bucólico, mas sim o fantasma da pobreza, da miséria e da falta de perspectiva, pois em vez de ecologia, seremos autofágicos em nosso habitat tropical e equatorial, dizimando a flora em busca de lenha, destruindo a vida vegetal e animal aos poucos, num crescente de aniquilação do que é necessário para a vida continuar em harmonia.


Publicada no Facebook em 25/05/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 07/04/2020
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