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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos
"SE A CANOA NÃO QUER VIRAR, VOU ESTAR LÁ NA ESQUINA"

"SE A CANOA NÃO QUER VIRAR, VOU ESTAR LÁ NA ESQUINA"

Quando vi o rio, na jusante, defronte ao mar, eu pensei na longa jornada das águas que brotam nas grotas e nascentes do além terra, em altitudes que elevam as águas aos céus.

É como se para descer ao mundo dos homens, primeiro fosse preciso passar pelas portas do céu, buscando a permissão divina para sangrar, e nutrir tudo o que suspira e lateja com necessidade de vida ou perpetuação de histórias de ancestralidade, que se eternizarão à medida que tenham a energia vital que vem das águas do mistério encarnado.

E vi sobre o rio as canoas, a romper sua película de proteção, que impacta os corpos que lhe caem sem as extremidades agudas que lhe permitem penetrar, vendo suas águas acolher e permitir flutuar na sua face ao sol e ao luar, estando tépida ou fria, à medida contrária à aproximação dos astros que lhe puxam pela força gravitacional, já que rarefeita se torna a camada de atmosfera em sua borda planetária.

E vi a esperança transbordante tomar conta dos que buscam horizontes e sustento sobre as canoas, nos piscosos rios que vicejam nos lugares onde os homens ainda não adentraram e impregnaram com suas presenças fatais.

E a canoa não quer virar e muito menos afundar, pois se virar não vai servir aos seus propósitos, inerentes à sua forma arquitetônica e de desenho pitoresco, sem emendas ao soneto que encanta quem a usa. E, se afundar, não respirará os ventos elísios que sopram as emoções do viver, já que guelras nós não temos e curto será o caminho para o fim da jornada, que virá com a traqueia e os pulmões entupidos pelas águas profundas, que não deixam lacunas para o ressuscitar.

Mas pra canoa não virar é preciso galhardia, seja de noite ou de dia, se assim for a labuta, onde a senda for por justa causa e ousadia, já que após toda a noite vem o dia, para aqueles que não deixaram a canoa afundar.

E eu vou estar lá na esquina, seja das curvas do rio ou na penúltima ponte que liga as margens da vida, para ver as corredeiras levar a canoa ao mar, vendo o vento a sacolejar com o salpicar da maresia, deixando os que navegam às margens do oceano medonho com a face enrugada e franzida, mas também queimada pelo sol inclemente que reluz nossas fraquezas e nosso acordar para a vida.

Mas também vou estar lá na esquina, aguardando os pescadores que já chegaram da jornada, mesmo quando a invernada prejudica o pescar, pois um peixe bem gostoso, eu quero comer ao meio dia, com leite de côco e uma pitada de dendê, e acrescida de pimenta num bom molho lambão, com cebola, tomate, cheiro verde e limão, para a fome saciar.

Mas tudo isso só será possível se Iara, Oxum e Yemanjá também concordarem, nos protegendo, seja nos rios ou no mar, pois que intercedem junto a Deus, Olorum, pra que demore em nos chamar.


Publicada no Facebook em 25/05/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 07/04/2020
Alterado em 07/04/2020
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