SENTADO À BEIRA DO ABISMO, APÓS O CAFÉ
SENTADO À BEIRA DO ABISMO, APÓS O CAFÉ
Quando estamos cansados da longa jornada,
Buscamos parar para reenergizar.
Querendo nutrir o corpo e também a alma,
Com os nutrientes que nem enxergamos por vez,
Mesmo que o fim esteja perto talvez,
Já sendo o rio diante do mar.
Mas a longa caminhada,
Feliz para alguns que não tiveram percalços,
Só terá descanso e paz tão decantada,
Se realmente pisarmos em solos descalços,
Num contato íntimo com os segredos da estrada.
Mas cabe o refletir perante os abismos medonhos,
Que alguns de nós visualizará entres os sonhos,
Que todos temos durante cochilos e sonos,
Onde o bem conflita o mal, em meros desequilíbrios,
Para tecer uma rede, na queda que virá, afinal.
Mas, que queda é essa,
Que não podemos parar de antemão,
Pois a tontura virá da vertigem oculta,
Do nosso passado tão medonho de então,
Selando a vida, em que decantamos o ter,
Numa insultante e ferina ilusão.
E assim, eu fito o horizonte sombrio,
Que entre a névoa se mostra num desafio,
Em turbilhões, eu sinto um calafrio,
Será o fim, ou o princípio de outrora?
Que vem em lágrimas, como um jazigo bem frio,
Selar meu fim, numa queda sem hora.
Eu nem queria admirar o que miro,
Mas vejo as flores vermelhas como marcas de tiros,
Onde o mundo se põe contra a vida dos homens,
Fazendo charge do funesto jardim,
Que brilha mais do que couro de selim,
Por onde descem, escorregadios, os longos declives sob o Sol.
Quem sabe um dia,
Pela oportuna sensação de melhora,
Esqueçamos todos os traumas de outrora,
Fazendo o que for impossível fazer,
Buscando os fios para uma roupa tecer,
O terno que nos levará ao descanso e à penhora.
Pois que penhoramos os nossos dias mais benfazejos,
Buscando servir a todos os nossos desejos,
Diante dos repentes que temos aos prantos,
Que lacrimejam até a face dos Santos.
Será que a conta encerraremos à toa,
Merecendo ou não a cobertura dos mantos?
Deus queira que o frio nos deixe apascentar,
Todas as cabras que vimos pelas escarpas,
Na queda em que escorregamos nas farpas,
Pois nosso sangue já rompe a pele,
Que se lascera na queda sem febre,
Pois o frio nem deixa o café borbulhar.
Café tão quente de toda Etiópia,
Da cor e cheiro de mato agreste,
Se deixa levar para as alturas celestes,
Para num clima de harmonia nascer,
Fazendo o dia frio nos aparecer,
Como os verões que irão, pós outono, invernar.
E após o café na xícara ou caneca fervente,
Sentimos o frio a trincar nossos dentes,
Num choque térmico, minha nossa senhora!
Pois foi ali, na expressão de tormento,
Que comemos o pão com manteiga e fermento,
Na última ceia, onde o abismo clama sem hora.
Publicada no Facebook em 10/05/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 07/04/2020