A NECESSIDADE DE SE PREPARAR PARA EVITAR UMA HECATOMBE PROFETIZADA
A NECESSIDADE DE SE PREPARAR PARA EVITAR UMA HECATOMBE PROFETIZADA
Todos nós temos a liberdade para definir nossas opções de vida, muito embora tenhamos todas elas acorrentadas às consequências de cada porta que abrimos, cada caminho que percorremos, como alguém que chega a um restaurante e se depara com um cardápio variado, mas sabe de suas limitações de saúde e tem que escolher a sugestão certa, no tempero adequado para que não lhe traga desarranjos intestinais ou qualquer outra intercorrência, a qual pode influenciar no seu futuro ou até lhe tirar a condição vital para existenciar.
Devemos nos posicionar entre o que queremos realmente para o futuro de uma Nação que tem uma característica básica invejada e almejada por todo o mundo, principalmente como um território com condições naturais de extrema riqueza, seja por questões energéticas, climáticas, geológicas, geográficas, apresentando gigantescas reservas de água potável, solo prazeroso para a agricultura e pecuária, vasto acesso ao oceano, ao perímetro do equador, sem falar na multiplicidade climática onde a produção de alimentos e de commodities são de expressão e estão em franca progressão, para um estágio em que poderemos alimentar metade da população global, sem falar que em termos energéticos, brevemente teremos a maior reserva de energia fóssil, eólica e solar do planeta. E tudo isso nos torna vulneráveis para a cobiça internacional, que caminha perigosamente numa tênue linha entre a paz e a guerra, pois devemos lembrar que as grandes potências mundiais, em caso de conflito global, naturalmente buscarão se assenhorar de toda e qualquer fonte de suprimentos, colonizando aqueles que não possam se defender, por viverem em escaramuças internas a todo o tempo, sem buscar uma política capitaneada por um estadista sábio e capaz de agregar todos nós, brasileiros, em prol de um futuro auspicioso para todos e para os que virão nos descender.
Como diria o lunático profético Raul Seixas, baiano não por acaso, numa terra que já nos trouxe Castro Alves, Gregório de Matos, Joana Angélica, Maria Quitéria, Ruy Barbosa, Octávio Mangabeira, Waldir Pires, Glauber Rocha, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Jorge Amado, Waly Salomão, Afrânio Peixoto, Tiganá Santana, Mãe Menininha do Gantois, Irmã Dulce, João Ubaldo Ribeiro e tantos mais, não diga que a vitória está perdida, pois sempre haverá tempo para reconectarmos com a fé em Deus e a fé na vida, para tentarmos outra vez.
Aqui tivemos o exemplo de sacrifício da Sóror Joanna Angélica, que deu sua vida pela liberdade de um povo, contra a opressão e a colonização exploratória de um povo. Pois quando passamos a relativizar certos conceitos humanísticos de respeito ao ser humano, em contraposição a outros defeitos que podem ser combatidos de modo adequado, como são os casos de corrupção, que atingem a todas as camadas e estruturas sociais do mundo contemporâneo e antigo, fazendo escárnio da tortura, homofobia e preconceito racial ou religioso, segregando as minorias, desdenhando da pobreza, é um sinal que as manifestações de ódio e desprezo que destilamos, como a cana no alambique, queimarão nossas gargantas e turvaram nossa racionalidade como seres humanos, impedindo que defendamos os mais fracos, excluídos e oprimidos, pelos quais deveríamos sempre tomar partido.
É incrível quando as camadas atingidas são as mais humildes, como foram os casos de Marielle Franco e Mestre Môa do Katendê, que se deixam atingir por um ódio sem nexo, como o ódio disseminado pelos fascistas, seja em 1922, na Itália, em 1933, na Alemanha, ou no Brasil de 1964, onde os próprios militares praticavam atentados terroristas para culpabilizar os que se contrapunham ao Golpe Militar, gerando um período de trevas na história brasileira, já tão padecida de dias de eclipse ou noites sem luar, quando experimentou o quase total extermínio e escravidão dos silvícolas e a extradição forçada dos negros africanos que aqui perderam sua liberdade de vida e espiritual, que foram enfim libertados de modo virtual em 1888, já que saíram das correntes sem qualquer amparo para recomeçar a exercer suas cidadanias, excluídos que foram do acesso à moradia, saúde, educação e respeito, relegados que foram ao trabalho ambulante ou semiescravo.
O momento é de se pensar os riscos em que estamos expondo o futuro da nação, quando contrapomos a cultura da bala contra a cultura do lápis, mesmo que ainda haja boa vontade em ambos os lados. Mas devemos ser coerentes de que estamos numa encruzilhada política de gravidade desmedida, onde conflitamos opiniões carregadas de sentimentos e não de razão, expondo nossos sentimentos mais reais e profundos, carregados de defeitos que não se mostravam, mas agora implodiram, turvando a mente do povo, deixando vulnerável a democracia tanto perseguida, mas ainda não alcançada para seu pleno gozo, já que o Brasil não se livrou do estigma da escravidão, da ideologia racial e de supremacia de um ser se achar superior ao outro, onde a melanina eurocêntrica como referencial de tudo que seja realesco ainda impere no inconsciente coletivo, até da classe média e baixa brasileira.
É necessário que reflitamos os dizeres de Noberto Bobbio, onde o mesmo tece considerações sobre o fascismo em que estamos à beira de abraçarmos e se arriscar, pois ele é antagônico à liberdade proporcionada pela democracia, principalmente quando por trás de sua liderança há pessoas que compactuam com interesses internacionais obscuros e em desfavor dos direitos sociais duramente conquistados por nossa frágil sociedade.
Publicado no Facebook em 12/10/2018