COMÉRCIO, MANIPULAÇÃO E SECTARISMO
COMÉRCIO, MANIPULAÇÃO E SECTARISMO
Tenho andado muitos caminhos, conhecido meu País, encontrado com pessoas, clãs, etnias, grupos sociais, confrarias, lidado com jovens, adultos, longevas pessoas. São histórias de vida e convívio também com empresas, escolas, ambições, intrigas, invejas, ganâncias desmesuradas de poder e fortuna, que agora desandam para aberrações de se confundir os interesses meramente mundanos com o que poderíamos dizer serem desígnios divinos, quando não, se tirando proveito da inocência das pessoas, as quais debilitadas pela opressão da fome, da falta de um lar, da falta de dignidade e assoladas por saúde precária, insegurança e desemparo social, além do desemprego, que se tornam presas fáceis às promessas de cunho etéreo, que buscam respaldo em interpretações difusas de textos religiosos, interpretando-os ao modo dos que se auto intitulam serem eleitos por Deus.
E no comércio, de tempos nem tão recentes para cá, vemos os ardis impregnados em mensagens aparentemente inocentes, mas que denotam um direcionamento venal de algo que não tem qualquer relação com o espiritual. São painéis e outdoors publicitários com frases do tipo "Deus é fiel!", ou trechos bíblicos, seja do Torá ou do Novo Testamento cristão, a invocar uma relação empresarial e financeira com a Fé das pessoas. Sutilmente, vamos vendo produtos sendo vendidos com embalagens que carregam expressões do tipo "XXXX, uma empresa de Xxxxxx levando o melhor da natureza para você!", realçando o nome da empresa e o ramo religioso do empresário.
Será que é isso mesmo que Deus quer de nós, que preguemos o sectarismo, a discórdia ou o ódio religioso, quando dizemos "acarajé gospel" ou "açaí gospel". Será mesmo que esse empresário despreza a clientela de outras religiões, ou é uma estratégia de doutrinação, como se fossemos donos da verdade absoluta, a qual pertence só a Deus, já que a nossa verdade é meramente cultural ou doutrinária? Será que só o nosso modo de crer é o certo, sendo os credos demais o fruto da perdição?
Vejo como algo muito grave, numa sociedade que se diz plural, multiétnica e moderna, a qual quer ver seus produtos ganharem comercialmente o mundo, se deixarem confundir a busca da opulência com o respeito ao divino, incorrendo nos riscos de Salomão e tantos outros, que se deixaram contaminar e confundir as estações, deixando de perceber quando é inverno ou verão, primavera ou outono, além de não se verem como realmente o são: meros grãos de areia perante um oceano, ou poeira cósmica no vácuo das miríades de galáxias, essas sim com a completude infinita e sábia do Criador.
Buscar o equilíbrio do corpo e da alma é algo nobre, divino e apaixonante, mas devemos primar principalmente pelo respeito ao pensamento e ao crer do nosso próximo, sem forçar a barra. Se tivermos que ganhar seguidores do nosso pensar, que o seja pelo exemplo de vida, do que buscamos plantar, adubar, regar e cuidar, para colhermos ou não os frutos que almejamos.
A bem da verdade devemos fazer como quem planta um Jacarandá, um Jequitibá, um Carvalho, uma Oliveira, uma copaíba ou até uma tamareira. Não devemos ficar pensando em vê-las portentosas e milenares, mas conscientes de que alguém será beneficiado no futuro, pois nós só temos o presente e o orgulho efêmero do passado, nos orgulhando mesmo é de termos feito o basilar, que foi o arar, gradear, semear, adubar, regar e cuidar, como já foi dito um pouco antes, até quando a saúde e o chamamento eterno nos permitir.
É preciso viver de perdão e tolerância, de bondade e afeto, de respeito e carinho, buscando o merecimento das venturas celestes, já aqui na terra, mas sobretudo no caminho celestial que só Deus tem o calendário e o relógio de tempo, onde só ele é Senhor. Só ele é capaz de dar o cobertor específico para cada momento de frio ou calor.
Publicado no Facebook em 2/07/2018