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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos
LOUCURA SÃO DOIS LOUCOS SE AMAREM

LOUCURA SÃO DOIS LOUCOS SE AMAREM
 
Certa feita dois malucos queriam fugir de um lugar e planejaram pular um muro para concretizarem a fuga. Mas no dia em que haviam programado para a fuga, descobriram que a chuva forte da última noite havia derrubado o muro que eles tanto idealizaram pular. Daí, desistiram da fuga, pois não tinham como pular um muro que não mais existia.

Essa estória é emblemática para demonstrar o que pode ocorrer com os loucos. Mas traz a idéia de algo engraçado para pilheriarmos sobre os sintomas psicológicos das outras pessoas.

Mas o que pode ser mais incrível do que duas pessoas consideradas por todos como lunáticas, na mais pura das definições, pois estariam vivendo no mundo da lua, se encontrarem pelo acaso do destino que derruba muros sem mesmo a chuva ter caído ou as trombetas terem sido tocadas?

Como explicar um telefonema, dado a décadas atrás, que encantaria uma louca pelo puro expressar das palavras num tom musicalmente grave? E o que faz alguém ir reclamar e seduzir sem nem saber do que o futuro lhe espera?

Nem sabia aquela louca, que estava bem diante de um caso de loucura que havia escapado da clausura de não saber a própria razão do seu viver, o qual olhava pras estrelas, para a névoa das frias tardes, olhos turvos sem maldade, por nem entender o que não enxergava.

Ele mesmo só descobriu que era quase cego quando lhe mostraram um passarinho a cantar na goiabeira, mas que todos, menos ele, percebera que a ave estava ali. E ele, esfregando os próprios olhos, sem acreditar nos outros, foi saber que só bem pouco enxergava de verdade. Mas por isso talvez tivesse descambado para os sonhos, pois neles as imagens percebia, bem bonitas e reais, percebendo o que os demais não entendiam o porquê.

Sua infância então se foi, com cicatrizes meio abertas, sem saber porque nas festas a tristeza lhe ardia. Nem sabia porque era tão fraco nos esportes, sem fôlego ou resistência, nem porquê tinha repentes de histeria nos seus primeiros anos de vida. Apenas soube que viera prematuro, acalentado por uma caixa de sapatos, toda cheia de algodão.

Pato feio, magricela, ruim de bola e meio aéreo, viajava na sua pipa chacoalhada pelo vento, no alto dos galhos se escondendo ou quando ele caia todos os dias da cama, ao dormir, e acordando na madrugada com o frio do chão nú e vendo acima o estrado da cama como telhado.

Mas lá veio a escola e a cobrança foi maior, pois logo foi despedido do emprego de criança, pra labuta enfrentar. Era uma flanela pra limpeza dos objetos a vender. Eram recados e encomendas que exigiam andar pelas ruas a correr. Logo veio as cobranças das contas de fiado dos clientes, mesmo perto ou bem longe, todas feitas nas sandálias. Só mais tarde é que surgiu a bicicleta como apoio, mas que juntaram o encargo de ir aos bancos para o serviço adiantar.

Foram tempos diferentes, pois não eram conscientes de que faltava algo no viver. Era como usar carbureto pra amadurecer banana. Era um meio termo que pervertia. Pois já bem jovem ele bebia e olhava as coisas já se pensando adulto, mas sem entender ser apenas uma criança ou pré adolescente.

Tudo veio cedo demais, pois até mesmo dirigir já o fazia com dez anos. Já pensava em sexo desde os oito anos, influenciado pelos mecânicos das oficinas, que lhe mostravam as folhinhas com pôsteres de mulheres.

Para um mundo tão atrasado, como o nosso mundo brasileiro, teve que ir morar em outro estado para estudar em faculdade. Era morar num cidade e estudar em outra. Todos os dias ter que levantar às 05:00h para estar na sala de aulas às 07:00h. Era um suplício. Merendar nem ver, pois o orçamento não permitia. Ir à praia só à pé, num percurso de 9km ida e volta, pois senão faltava tickets para o buzu da faculdade.

Lá estudou inglês, embora também era uma caminhada de 3km, mas o convívio foi um grande aprendizado entre os primos e os tios, que tiveram o carinho, mas os tempos eram difíceis para todos. Ficou a saudade para sempre.

E a outra banda da laranja dessa história, viveu outras loucas estradas, entre cidades e fazendas, zona da mata ou na chapada, no Rumo ou em Itaetê, beirando o rio Paraguaçu. Mas veio o tempo em que chegou a Jequié, para morar com os parentes, sem a escolha do que ter. Foram tempos duros, com família grande e meio errante, pois tendo os pais meio distantes, não tinha uma rima para a música.

Como não gostava de depender de favores, ela começou a trabalhar cedo. Gostava de ter a liberdade de poder sair sem mendigar. Era pássaro sem gaiola, mula sem cela, mas também foi conselheira, já que os loucos enxergam aquilo que os normais não podem ver.

Nós, os loucos com certificação, seja psiquiátrica ou mediúnica, vivemos num mundo que atravessa dimensões, existências ou vivências, enxergamos através do mistério, do sensitivo, do existir, mas sobretudo do que existiu ou existirá, por termos o auxílio dos transpiros sensoriais dos que surgem nas brumas, no sopro e no uivo dos ventos, nas gotas das chuvas ou até no suor milenar dos estalactites das entrâncias mais profundas das cavernas onde a vida se transforma ou confabula com o Divino.

Foi desse encontro, preparado no acaso de uma carona furtiva, de parentes mútuos que namoravam, que realmente houve o primeiro contato mais sério, se é assim que os normais podem entender. Lá, por não terem destino premeditado, foram todos, lado a lado, circular para viver. Trocando falas e falsetes sem porquês, decidiram que noutro dia iam se ver.

É assim que começaram a caminhada sem estrada, mato a dentro, sem embornal. Pois nada foi imaginado, tudo fluindo como uma fonte de água que brota para ser rio, cachoeira e desafio. Era uma relação em que se equilibravam sobre um fio, tênue e forte ao mesmo tempo, pois uniam dois loucos bem marrentos, de repentes sem lamentos, como uma bomba que diante de uma chama, já tremula e direciona o seu pavio.

Foram meses tão ardentes, que nem mesmo a semente perceberam germinar. Mas os dias se passaram, e os Senhores de Engenho quando viram o que brotava, logo quiseram por as enxadas para limpar a terra, impedindo que os grileiros, esses loucos aventureiros, consumassem o seu pomar.

Mas já era tarde, e as idéias de loucuras tinham força e fartura de vontade de voar. E enfrentaram toda tormenta que as turvas nuvens encharcavam as penugens dessas aves a decolar. Foram dias de calafrios, tendo apoio até dos tios, que viram algo de trivial, pois nas famílias sempre houveram histórias temperadas com o mesmo sal, e foram bençãos afinal, contra a vontade de alguns.

E eles contrariaram tudo, pois deram mais valor ao amor, aos que querem viver e aos que se baseiam no querer indecifrável que pulsa no coração e colo do mundo, pois mais do que mansões, o que queriam eram as emoções que só as peças reunidas fazem um motor vir a funcionar, alimentado pelo combustível que somente o ninho de acalanto e manjedoura, de uma nave espacial que foi como uma porra louca, que calou todas as bocas, mas lhes permitiu ser uma família tão ímpar.

Ela é forte, mesmo sendo a louca que contagia, pois onde vai a alegria se junta como a terra e o mar. Ela é como a fonte de água doce e cristalina, que poli o ouro de uma mina, mas sabe ser raio e furacão, pois defende tudo que lhe é seu de direito, mesmo com todo o respeito ao outro louco do quarteirão.

E ele gosta dessa louca com certeza, pois só a mãe natureza conhece um touro com a certeza de ver seus cascos marcar o chão. Pois o touro quando gosta ele confia e trata com muita cortesia todos no pasto do sertão.

E a Fé é o que une um touro a um caranguejo, pois Fé é crer que nem o sacolejo de um mar revolto, pode abalar quem confia e crê no que não se vê, que caminha com firmeza sobre as águas na escuridão, pois têm certeza que não estão sozinhos, pois enxergam todos os caminhos e seus vizinhos, como se eles estivessem com os fachos e velas acesas, mostrando as ervas que curam e saram as almas de todos os loucos pelo perdão e pela acolhida, estancando as feridas, para serem símbolos de paz para todos irmãos.

Esse é o grande segredo de dois loucos que se amam, desde outras vidas ou outros planos de existência do nosso Criador, que nos confortam enquanto carne, pelos anjos e orixás, os encantados, santos e tudo o mais que nos une beneficamente o corpo ao espírito, curando nossas almas e nossas alucinações.

Publicado no Facebook em 16/07/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 05/04/2020
Alterado em 05/04/2020
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