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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos
REPENTES DE UMA INFÂNCIA CURTA, MAS ÚNICA.

REPENTES DE UMA INFÂNCIA CURTA, MAS ÚNICA.
 
Como se imaginar numa época em que vivia-se num mundo que dava passos largos em busca da conquista do espaço sideral, ao mesmo tempo em que estávamos quase na pré-história da humanidade? Já que esse recanto brasileiro, foi dos mais tardios habitats colonizados além dos povos etnicamente originais, invadidos pelos outros seres humanos que se arvoraram em singrar os mares e buscar revelações e novos horizontes para desafiar os próprios limites que perduraram no imaginário dos povos medievais ou de outras épocas histórias ou proto-históricas dos núcleos de hominídeos, dos quais só se sobressaiu finalmente os atuais homo sapiens sapiens, que são a mescla resultante de uma genética que atinge a todos nessa nossa humanidade, como podemos nos ver nessa inserção?

Aqui, nesses rincões sul-americanos, desgarrados da pangeia como a tentar fechar o circulo de fogo que se formou no mágico e misterioso oceano pacífico, que de pacífico mesmo quase nada tem, estamos nós brasileiros, a vitamina de frutas e cereais, todos juntos e misturados, numa assembléia de todos os povos, bichos, plantas e ervas, como a cear o banquete celeste que só mesmo o Supremo Criador do "Oni" poderia imaginar.

E esse "nós brasileiros" é fantástico mesmo, pois víamos o mundo de uma maneira muito pueril, que no limiar histórico do chamado Ocidente Cristianizado, em plena década de 60 do XX século de uma contagem abstrata de tempo, baseada numa possível data histórica que nem mesmo ocorreu no momento que se quis definir, pois Herodes dos Hebreus teve as suas sádicas e funestas ações e decisões praticadas em um momento outro, que possivelmente o fora a quatro ou até seis anos antes do marco histórico que tentaram engendrar, mas que agora não faz a menor diferença para o que pretendemos expor, pois o fantástico mesmo é vivermos sob um mesmo Sol e os reflexos de uma mesma Lua, mas com percepções de vida tão dispares e únicas entre todos os espaços de terra, mar e ar que ocupamos, que nem dá mesmo para sabermos se estamos realmente num único planeta ou dimensão de vida, como se o Universo fosse misteriosamente preparado para interagir dimensões de tempo e espaço sob um mistério tão profundo que nem as zonas abissais e suas vidas micro ou macro especiais podem explicar.

Mas foi assim, que surgiram esses Juniores, hoje cinquentões, dos quais somente Eu mesmo, que declamo tais palavras é que não recebi tal homenagem, embora seja parte da trupe que envolveu a todos daquela época e daquele bairro tão singelo, onde os Newitons, Oiltons e Edinaeis, todos sonhadores de um enigma do mundo chamado Brasil puderam vivenciar nos seus cotidianos de vida e infância, mesmo sendo tempos de terror e intriga, de ditaduras e falta de respeito aos direitos mais elementares do ser humano, que é a sua plena liberdade, tanto de agir como de falar ou pensar, mas que passaram desapercebidos por justamente serem apenas crianças.

É engraçado como somos tão peculiares, nesse enigmático Brasil, pois nos outros lugares há orientais, escandinavos, caucasianos, bantos, tuaregues, indianos, chineses, esquimós, indonésios, polinésios, saarianos, celtas e tantos outros clãs ou grupos étnicos, mas aqui é o lugar do turbilhão das águas, da babel das línguas, do ponto final das avalanches alpinas, onde tudo se mistura e perde seus perfis originais ou étnicos, para gerar um novo complexo polivitamínico humano para nutrir o mundo.

Se eu tivesse que recomeçar tudo de novo, não pensaria em mudar nada desse início, pois tudo foi realmente encantador, mesmo quando nós quebrávamos nossas sandálias e tínhamos que costurar com cordão e agulha ou até um prego atravessado, para as brincadeiras continuarem.

Eram varas de ferro retorcidas de um lado e afiadas na outra ponta, para furarmos o chão da terra recém molhada pela chuva, a formar um triangulo imaginário onde fazíamos retas entre os furos que provocávamos, buscando prender imaginariamente o outro para vencer.

Tínhamos a criatividade de fazermos nossos próprios carros, usando latas de óleo de soja da marca Violeta, recortando a chapa para fazermos as supostas portas, janelas e parabrisas, pregadas sobre tábuas e tendo no lastro as alças de ferro que recolhíamos nas casas comerciais, que serviam para fechar os caixotes das mercadorias que proviam das indústrias paulistas, fazendo delas os fechos de molas onde passávamos arames que serviam como eixos, que tinham em seus bordos os recortes redondos das sandálias velhas e imprestáveis, que se faziam de pneus para concluir nossos caminhões. E assim, com um cordão ou uma cordinha, os puxávamos pelos caminhos que nós mesmos construímos com a nossa engenharia rodoviária infantil, criando túneis, ladeiras, curvas e tudo mais.

Já as meninas, costuravam suas bonecas, cada uma mais garbosa do que a outra, onde todos nós íamos brincar. Era o Esconde Esconde, o Trinta e Um Olé, o pular corda, o jogo de gude, o velocípede, o Cascudinho com as bolas que não podiam cair no chão, as quais nem sempre eram de couro ou de borracha, mas de meias que amarrávamos. E as piculas, as pranchas com rolamentos, os retentores com uma vara sendo o guiador, as pipas e arraias, os balões de São João, as bombas de traque ou as bombas de tanque, onde trocávamos os pavios e enrolávamos as bombas com cordão e as amarrávamos a uma pedra e soltávamos nos tanques da vizinhança, só pra ver estourar e a água salpicar a todos. Assistir as televisões de velas que demoravam a aquecer, em preto & branco, vendo os três patetas, o gordo e o magro, Shazam, Rin tin tim, Bat Masterson, Robin Hood, Dakitari, Daniel Boone, Zorro, Roy Rogers, Batman & Robin, Superman, os Homens Pássaro, Perdidos no Espaço, Viagem ao fundo do Mar, Terra de Gigantes, A Feiticeira, Mickey Mouse, Pato Donald, Popeye, Moby Dick, 20 mil léguas submarinas, Príncipe Namor de Atlântida, Aladim e tantos outros seriados, que alternávamos com todas as brincadeiras depois das aulas.

Mas, acordamos de repente, e só hoje é que percebemos o quanto fomos induzidos ou até seduzidos por um marketing que propositadamente nos faziam resignados como se fossemos povos de segunda categoria ou apenas meros tupiniquins. Deixamos de pitar o fumo de corda para nos viciarmos nos cigarros da Souza Cruz ou Phillip Morris. Não conseguíamos enxergar que a Gurgel não prosperaria, pois os interesses internacionais eram maiores. Não vimos nossas estradas de ferro serem ampliadas ou melhoradas, mas apenas as estradas serem abertas, mesmo que o fossem sem asfalto, pois o objetivo era atender às montadoras internacionais que aqui estavam, conluiadas com os políticos e militares que até hoje se fartam no poder.

E foi assim que encerrei a minha infância aos oito anos, alternando os estudos com o trabalho para crescer. E os amigos vi se dispersarem sem nem mesmo perceber, só ficando a saudade de um tempo que se foi, que não volta aqui jamais, sem ao menos dizer oi, pois fui acompanhar meu Pai.

O que me alegra, nesses novos tempos vindos, é que a tecnologia acabou também se instituindo como forma mundial de se encontrar, de se falar ou de se ver, mesmo na virtual TV de um monitor quase real, pois as distâncias já não são um empecilho, já que os mesmos estribilhos, todos nós vamos cantar, como nos versos que os poetas e artistas fazem fãs tão repentistas, das coisas que são o trivial.

Só tenho saudades, das conversas e todas as prosas que nós tínhamos, sendo embalados pelos passarinhos que nós criávamos nos quintais, mas que enfeitavam também as salas ou as entradas, os bancos nas portas ou as redes armadas, mas também nos balanços que haviam nas árvores do quintal. Lá todos tínhamos os criadouros de galinhas, de patos, perus e os porquinhos, que nos alimentavam nos finais de semana ou nos natais. Subir nas árvores e colher frutos "in natura", eram tão grandes aventuras, que nos faziam imaginar, sermos Tarzans se pendurando em cordas e saltando de galho em galho já voando, pois era fantástico sermos livres como os animais.

Era tão bom sentar nas rodas com as demais crianças para ouvir as estórias contadas pelos tios e tias, como se não fossem apenas parábolas ou filosofias, mas acontecimentos que nós sentíamos como algo real. Pois nós acreditávamos em Papai Noel e muito mais, pois ainda não éramos iguais aos adultos que nos falavam. Nós tínhamos a pureza nos nossos corações.

E a nossa pureza é que nos dava força e luz, e forjavam nosso caráter, que até hoje faz jus aos bons cidadãos que aquela geração consagrou. Mesmo sabendo que muitos outros não caminharam os mesmos trilhos que herdamos de nossos pais, mas ainda temos a esperança de que o mundo alcançará o seu dia limiar, onde mesmo que demore o nosso aguardar, nós nos decidiremos todos pelo que for para o bem, onde nossos descendentes poderão viver num mundo mais justo e adequado aos propósitos de felicidades que todos nós almejamos, sob a graça do cosmo celeste.

Publicado no Facebook em 13/07/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 05/04/2020
Alterado em 05/04/2020
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