MESA POSTA ENTRE OS SÓIS
MESA POSTA ENTRE OS SÓIS
O Universo conspira a vida entre as estrelas, mas só a permite quando esses astros estão maduros. E o verde surge por encanto, como o meio de um fruto, que deposita as sementes para a vida, sabendo que a despedida será entre o amarelo e o vermelho.
É incrível como a natureza nos deixa a mesa posta entre os sóis. Ela nos abastece de todo calor e nutriente fundamentais ao nosso existir, seja como seres humanos ou seja como evolução da vida, que Deus plantou nesse privilegiado lugar, o qual ele escolheu com seu discernimento único.
Mesmo sob a secura de momentos que atravessamos eventualmente em nosso caminhar de luz, onde as mesas postas mais parecem tocos mortos, entre galhos retorcidos ou adernos sobre o chão, podemos dizer que a casa que nos foi presenteada se prepara todo dia, para ressurgir das noites frias sem luz, ou tórridas em ressacas de chão assolado pelo fogo, com a força do alvorecer de esperança, que se demonstra no calor que reluz os fótons da vida, pelas gotas de água que escorrem das folhas secas ou tenras, mas que são cores do arco-íris de existência, do todo que nos foi concebido gratuitamente.
É engraçado como a combinação perfeita entre distâncias e tamanhos, idade e rotação, translação ou interação de conjuntos estelares, permita que a vida se faça, por mistério e simples graça, para se demonstrar quieta ou explosiva, pensativa ou delirante, nos apresentando um gigantesco catálogo de espécimes, sejam vegetais ou animais, vertebrados ou invertebrados, mamíferos ou ovíparos, que andam, nadam, rastejam ou voam, mas que sobretudo expressam vontades ou instintos, desde que possam exercitar ou não a lucubração.
E o existenciar como ser humano, que nos difere dos demais, está em termos consciência do que fazemos, não trivializando o que praticamos e o que buscamos para dar sentido ao que conflitamos em nossas vidas, como diria a judia Hannah Arendt, banalizando o bem ou o mal.
Se há uma coisa que realmente diferencia os humanos dos demais animais instintivos, é a sua humanidade consciente, pois não podemos nos dar ao desfrute de acharmos que acatar regras, sem questioná-las, são ações suficientes para abrandar nossas culpas ou dar dignidade ao nosso agir.
Já que o homo sapiens sapiens criou todo um organograma para o convívio de sua própria espécie, é fundamental que estejamos aptos a nos reinventar a todo momento, em termos de comportamento social, retirando a estática de todo e qualquer conceito de legalidade, já que estaremos sempre sob a influência de pessoas ou grupos sociais, de consequentes readaptações ao meio ambiente ou ao meio social, que demanda perfis ou personalidades as mais variadas possíveis, fruto de relações étnicas ou filosóficas que trazem no seu bojo todo um conceito e seus preconceitos de existir.
No fundo de tudo, como raiz comportamental de qualquer espécie, está a questão do sobreviver e do perpetuar. É por isso que os machos e fêmeas interagem, quando copulam ou selecionam inconscientemente os seus pares.
Nós não somos muito diferente do restante do mundo animal, no quesito da sobrevivência, mas nos distanciamos dos demais quando ganhamos a consciência do que fazemos. Quando paramos para perguntar de devemos ser ou devemos estar, estamos a questionar os porquês da vida, e mais especificamente o que nos motiva ou dá sentido ao nossos propósitos, mesmo que eles mudem com o passar dos anos, ou o passar das nossas gerações de vida, no sentido da ancestralidade que se pretenda ser continuidade.
É nessa mesa, que fizemos com madeira de reflorestamento ou de mero derrubar de árvores milenares, e que o tempo não nos permitirá ver outras iguais em seu lugar, que iremos fazer os nossos desjejuns, almoços ou ceias, recheados de momentos únicos de convívio, já que as águas de um rio nunca passam novamente pelo mesmo lugar. E ela está posta desde o momento primordial em que nosso Sol amadureceu para esse estágio amarelo e bem propício para a vida, que não será de eternidade cosmológica, pois se avermelhar é o seu destino, onde a vida não mais será permitida.
E enfim, nesse breviário funesto, podemos reavaliar o que entendemos por viver, pois já está mais do que claro a todos, de que não adianta vivermos sem nos percebermos vivos, como se apenas fossemos idênticos às árvores ou meras máquinas.
É inútil fazermos um equipamento que não terá serventia, como é inútil intervirmos na natureza de modo agressivo e descompassado do ritmo em que ela pulsa, quebrando o padrão biológico que foi montado de modo bem estável e onde a mesma transforma a tudo no planeta, mas de modo sábio e dentro do seu tempo astronômico, permitindo que o verde reine, entre o amarelo e o vermelho, nos mostrando o milagre que interage com as sete cores dos fótons solares e do restante do Universo, que brilha e pulsa, exalando vida.
Publicado no Facebook em 29/06/2018