SOLIDÃO EM PLENA MULTIDÃO
SOLIDÃO EM PLENA MULTIDÃO
O que será que está acontecendo com o ser humano? Será que estamos com a síndrome dos demais mamíferos de grande porte, que tendem à vida solitária, à medida em que avançam na idade, como elefantes e leões?
Parece que para nós, seres pensantes, o quanto mais perto se fica, mais longe se sentem as almas de lenhas, como se o aconchego da proximidade nos service de combustível e fagulha para se consumir.
Esse medo do próximo tão próximo, impõe que sejamos de frio tumular, como se todas as pessoas fossem contágios, doenças e estágio pro fim a chegar?
Cada qual vive como as roupas num armário, sem uso diário, que só tem serventia em ocasiões. Estamos em prédios cada vez com mais habitáculos, mas entramos nos elevadores como se o fossem só para serviço e não sociais. É o viver sem conviver, como se os alimentos só fossem consumidos pela fome, e não mais pelo deleite de saborear os temperos e o congraçamento de uma mesa posta para muitos talheres, cálices e convivas.
Cada vez mais as urbes incham, em vez de progredirem para o bem estar comum. São dificuldades que se mostram latentes, principalmente quando se deparam com fatores externos ao pensar urbano.
Todos os habitantes urbanos são reféns das intempéries e de outros fatores sociais, como uma repentina greve de caminhoneiros em 2018, que já teve um precedente no final do século XX, e pôde demonstrar com bastante clareza como seria nesse momento econômico do Brasil. As cidades não produzem alimentos perecíveis e são dependentes dos produtores rurais e de industrializados das mais variadas regiões do País.
Estamos como se fossemos um peixe fora d'água, ao mesmo tempo em que corporeamente estivéssemos imersos no meio de um cardume de peixes tão iguais, mas à margem de ferozes predadores, sujeitos aos agravos que a modernidade dos vícios e anseios nos chegam pela ingerência mundial que a grande mídia provoca.
Essas selvas de pedra, que foram tão desejadas pelos povos de outrora, pois padeciam das agruras de falta de saneamento, água tratada e todo conforto da modernidade tecnológica, sem falar na sensação de segurança que suas muralhas proporcionavam, hoje estão estremecidas pelo terremoto que abala seus pilares de vínculo com a natureza, nos tornando reféns das máquinas e seus motores sem alma.
Aquela singela casinha de reboco com barro e gradil de varas, com telhado de barro queimado ou com zinco pregado nas ripas ou caibros, não cabe mais nos novos projetos arquitetônicos, mas são a representação de uma ligação mais votiva para com a espiritualidade das matas e florestas, onde ainda se vê o nascer e por do sol, ou a lua sempre branca, banhando nossos sonhos e embalando nossos sonos, numa rede ou num umbral de varanda a ouvir o coaxar dos sapos e o galo cantando ao alvorecer.
Precisamos resgatar os valores que nos fazem irmãos, mesmo na solidão momentânea das distâncias, onde as multidões não serão mais barreiras psíquicas ao interagir, ao socializar emoções, amores e louvores ao existir, que nos foi presenteado sem cobrança alguma.
É como dizer que é melhor agradecer do que ficar a exigir algo mais suficiente do que é o existir. Pois existir é um milagre restrito no Universo, para os que alcançam consciência para saber que entre tantos cometas e sóis, gametas ou girassóis, somos uns poucos com a certeza de poder criar, amar, admirar e saber o porquê viver e conviver, sem precisar sermos solidão em plena multidão.
Publicado no Facebook em 02/06/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020