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Prosas de Braga
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CAMINHONEIROS: O RETRATO DE UM PAÍS ESCRAVIZADO!
CAMINHONEIROS: O RETRATO DE UM PAÍS ESCRAVIZADO!

Os caminhoneiros sofrem no escárnio dos pelourinhos, comem o pão que o diabo amassou, trabalham em jornadas desumanas e vivem a ausência de seus lares e de seus entes queridos cotidianamente. Muitos deles enveredam para as drogas, buscando suportar tanto estresse, e estão realmente doentes, por termos relegado a atenção devida ao modal rodoviário, sem também avançarmos as ações necessárias para aprimorar o modal ferroviário. Isso obriga as cargas rodoviárias a terem que cruzar jornadas continentais para abastecer esse País Continente, sem contarem ao menos com segurança, redes de apoio psicossocial e pátios públicos para os breves descansos, onde haja dignidade para o alimentar e a higiene pessoal.

Até quando veremos a escravidão se manter, quando propalamos a sua extinção a mais de 130 anos? A classe dos rodoviários suporta jornadas diárias de até 20 horas, pois as cargas perecíveis ou com horário de entrega contratados, que impõe multas pelos eventuais atrasos, os obrigam ao tormento do excesso de trabalho e estresse. Isso quando não os induzem ao uso das mais diversas drogas para buscar suportar o quase insuportável, onde no final descamba para um caminho de difícil volta, que é a dependência química.

É por isso que também clamam os caminhoneiros, pois trabalham de janeiro a janeiro, sem férias como as demais categorias. Não dormem em casa, mas fazem das suas cabines as suas verdadeiras casas, onde não podem desfrutar de conforto algum, pois as noites são como verdadeiras prisões, com medo dos eventuais ladrões que circulam por todas as beiras de estrada para lhes roubar, torturar ou até matar.

Nossos governantes precisam mudar a política de investimento na infraestrutura logística para o escoamento de cargas, em que o modal ferroviário venha a se tornar o meio efetivo para as cargas com percurso acima de 1.000 kms, cortando o brasil de modo longitudinal ou transversal e diagonal com ferrovias de duplo objetivo, transportando cargas e passageiros, em comboios ferroviários distintos.

Só devem ficar como política de transporte rodoviário as distâncias efetivamente menores, através de pontos de transbordo, interligando os modais, como já o fazem os grandes centros urbanos, onde se percebe a busca constante do convívio e integração dos meios de transporte, onde trem, metrô, brt, vlt e ônibus, van, uber, taxi, mototaxi e bicicletas, que se harmonizam de modo a otimizar o uso do solo urbano.

Assim também é o processo de interligação dos centros urbanos entre si e as micro e macro regiões do nosso País, que demandam estilos de transporte os mais variados, mas que carece, desde os últimos cem anos, de investimentos coerentes e com o olhar para o futuro. Não se cabe mais essa política de só se beneficiar as grandes montadores automobilísticas, já que esse modelo está fadado a ter fim, seja por termos os combustíveis fósseis com fontes não renováveis, mas também porque não há tanta facilidade para a mobilidade urbana e rural conviver totalmente dependente de estradas e rodovias, quando temos não só o modal ferroviário como solução, mas também há o transporte marítimo, fluvial e aéreo como opções.

É preciso também desconcentrar o modelo industrial e logístico, pois temos um centro-sul abarcando quase todas as indústrias e artérias rodoviárias e ferroviárias, quando as outras regiões são preteridas, aumentando o custo dos fretes.

São imensas regiões produtoras de grãos e carnes, ou de produção mineral, as quais não têm vias apropriadas para o escoamento da produção, fazendo com que a produtividade alcançada pelas novas tecnologias agropecuárias ou de prospecção mineral seja descartada com as perdas no armazenamento ou no transporte até os locais de consumo interno, ou também para chegarem aos portos e aeroportos que levarão, o que produzimos tão bem, para o sustento do mundo inteiro.

Só se percebe o descaso para com quem produz ou para quem realmente trabalha nesse País, pois são obras inacabadas ou mal projetadas em todos os lugares, como verdadeiros elefantes brancos, ou verbas sem destino adequado, não privilegiando os potenciais inatos de cada região ou estado, fazendo com que o Brasil seja autônomo em produção de petróleo, mas não o seja quanto ao refino. O mesmo ocorre em relação à produção de minério de ferro, pois não conseguimos produzir o aço necessário para o próprio consumo.

E, assim por diante, nós vivemos a servir aos palácios imperiais do hemisfério norte, que nos sangram sem sentirmos, como tênias e sanguessugas a drenar nossas energias, nosso saber, nossas farmácias naturais, nosso solo, subsolo e o nosso caráter como cidadãos.

Esse descaso torna nossas grandes fronteiras vulneráveis para todo tipo de droga, que usa o nosso País como passagem para o mundo, mas que também nos atinge, num todo que nos torna dependentes e imorais, pois já não sabemos mais como viver ou sobreviver, relegados que somos aos morros e favelas, ao racismo mundial e ao descrédito, pois o Brasil visto lá de fora, ainda é identificado como uma selva social, como se meros bichos ainda fossemos.

E mesmo que realmente fossemos bichos, talvez estivéssemos mais felizes, pois não teríamos as seduções das tecnologias do futuro que nos oferecem a peso de ouro, em troca das nossas matérias primas, que são essenciais para eles, mas que não têm o valor equivalente, nos deixando eternos escravos e dependentes das tramas econômicas mundiais.

Pois é isso o que somos no final, como os caminhoneiros são a grande expressão aqui representada: Somos o retrato de um pais escravizado!

Publicado no Facebook em 28/05/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020
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