× Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos
VEIAS E RIOS ASSOREANDO NOSSAS VIDAS
VEIAS E RIOS ASSOREANDO NOSSAS VIDAS

A sociedade brasileira precisa entender um pouco mais a natureza que nos cerca, estudando os nossos biomas e habitats, fazendo registro nas nossas memórias para percebermos o que está por vir, tomando por base o que tivemos outrora.

E isso é bastante óbvio para os nascidos de 1950 em diante, pois puderam perceber suas cidades a migrarem de um estilo de vida onde a cultura de trabalho no campo tinha uma matriz extremamente familiar e as cidades eram apenas locais de moradia ou para alguns serem alfabetizados.

As indústrias se concentravam nas capitais e seus entornos. Para o interior sobravam os pequenos mercados, mercearias, padarias, bobocas, açougues, lojas de armarinhos, tecidos e bugigangas. As roupas eram produto de alfaiatarias e costureiras. O subemprego de domésticas era comum, tudo à base artesanal, pois a pouca tecnologia era restrita aos grandes centros.

Naqueles tempos nem tão longínquos, telefonia e todo tipo de comunicação era um luxo que poucas moradias e até estabelecimentos empresariais ou públicos tinham fácil acesso. Era a época dos selos em cartas e telégrafos em ação, pois os telefones eram tantos que eram de quatro dígitos os seus números. E não havia privacidade para as conversações, que podiam ser acompanhadas pelos atendentes da empresas de telefonia.

Os transportes eram um flagelo, já que as vias eram estradas, de cascalho ou lama, com veículos os quais eram verdadeiras carroças, sem conforto nem capacidade para atender com esmero as reais necessidades do povo e da Nação. Eram paus de arara ou ônibus sem qualquer estrutura para longos percursos. Caminhões e carretas de mesmo quilate, que faziam das viagens, verdadeiras Odisseias gregas.

Essas veias por onde fluem o sangue econômico do país, só começaram a melhorar durante o regime de exceção de 1964, mas restritas às vias longitudinais e outras poucas, como o caso da rodovia Transamazônica, que até hoje é uma mescla de utopia militar.

Nossas cidades tiveram a chance de crescerem ordenadamente, com seus espaços projetados para o futuro, já que tínhamos uma população com matriz rural, a qual foi instigada a migrar, seja por fenômenos climáticos ou por não desconcentrar a matriz industrial e econômica do eixo Rio/São Paulo/Minas, que perdurou da extinta república do café com leite, mas aconteceu justamente o contrário.

Foram migrações desordenadas, como uma vara de porcos ou javalis a romper um milharal ou um plantio de mandioca. Era a esperança contra a sêca que ganhou os morros e favelas das capitais de beira mar ou do planalto e serras que se embrenhavam Brasil a dentro.

Tudo isso aliado ao já instalado resíduo de escravidão que cercavam as cortes e já eram vítimas de uma sociedade que se pensava capitalista, mas se sentia colonialista e escravocrata, como outrora. Pois são notórios os cacoetes jocosos contra os negros, índios ou mestiços, que não foram vencidos ainda nos dias de agora, levando ao engodo de um país que se proclama fruto da mistura de raças, sincrético e tolerante com tudo e com todos, quando suas veias e rios ainda estão a assorear nossas vidas, por teimarmos em cultuar uma matriz eurocêntrica, ocidental e judaico cristã, sem ao menos sermos tolerantes com a diversidade que é um fato da globalização moderna.

Viramos o celeiro das Casas Grandes, servindo apenas para produzir alimentos ou fornecer matéria prima para o demais países. Daqui estamos a vender petróleo bruto e importar seus derivados, mandando pra fora o minério de ferro e trazendo o aço. São muitos os exemplos e nem mesmo preparamos as nossas veias para escoar o que produzimos, pois as ferrovias foram relegadas por quase todos os governantes, ficando a matriz rodoviária com mais de 80% do transporte de cargas e passageiros. Quem dirá os nossos rios, onde o Pantanal e a Amazônia nem sabemos se realmente somos donos, já que a Amazônia possui áreas até fronteiriças nas quais só estrangeiros adentram, e vivem a pesquisar nosso subsolo e nossa riqueza botânica e farmacológica!

Estamos a anos luz dos países de 1° mundo, mas cientes do nosso potencial. E está mais do que na hora de reorganizarmos nossos cérebros, espalhados pelo mundo à fora, como fizeram os judeus no pós guerra do holocausto, para reerguermos a nossa Pátria, não mais sob a égide do branco, ou do índio e do negro, mas do brasileiro, que se sabendo resultado do liquidificador que bateu um suco de frutas e traz agora esse néctar para ser degustado, adoçado com o mel mais silvestre, tem todo cabedal intelectual, técnico e étnico para vencer e conquistar seu espaço e respeito no mundo civilizado.

Precisamos fazer como fizeram os asiáticos, que deram verdadeiros saltos de qualidade de vida e avanço tecnológico, mas sem precisar reinventar a roda, apenas aprimorando a que todos já conhecem.

Como poço da mescla dos povos, temos o mesmo direito de nos apropriar do que já existe ou é conhecido, adaptando ao nosso estilo de ser, pois não temos povo similar, e modelando o nosso espaço para melhor usufruto.

Precisamos, como em qualquer lugar que queira progresso, de água, energia, telecomunicações, mão de obra, tecnologia e infraestrutura logística. Então, mãos à obra!

Devemos cortar o País com ferrovias, melhorar portos, aeroportos e nossa marinha mercante. Difundir refinarias de petróleo e siderúrgicas. Ampliarmos nosso parque eólico e solar, desenvolvermos nossa farmacopeia e investirmos pesadamente em tecnologia orgânica, para aprimoramento da nossa produtividade agrícola, pecuária e lacustre.

Seremos não só o celeiro do mundo, mas também a sua farmácia e o seu jardim encantado. Pois quando todos quiserem ver a prévia do paraíso, será aqui que virão passear e se reenergizar, como se fossem a um Spa.

Precisamos de menos burocracia, mais celeridade no nosso patentear, no nosso produzir, no nosso agir e no nosso pensar, pois não adianta ficar a chorar o leite derramado, mas saber que a vaca está pronta para reordenhar e os céus continuam a sangrar as lágrimas de chuva que alimentam solos e sonhos.

O direito de descortinar o palco, tirando os atores que enojaram a platéia, e trazendo a boa orquestra para tocar a nossa verdadeira sinfonia está em nossas mãos. Vamos utilizar esses momentos ímpares, que nos impõem coragem, para escolhermos melhor o que queremos para o nosso futuro. Chega de atirar nos próprios pés. Vamos eliminar a banda podre da política e dos nossos destinos, para vencermos somente, nesse século XXI e nos vindouros, revitalizando as matas ciliares de nossos rios e veias, rompendo com esse assoreamento e fazendo a água correr no leito amado do nosso País, dando nova vida aos nossos ideais.

Publicado no Facebook em 27/05/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020
Comentários