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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
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AINDA TEMOS CHANCE DE VER RAIAR A LUZ SEM VIRARMOS SAL
AINDA TEMOS CHANCE DE VER RAIAR A LUZ SEM VIRARMOS SAL

Vejo o Brasil com o olhar de quem está numa noite bem mais longa do que as outras, de intenso inverno, em que as noites chegam mais cedo e o raiar do dia só nos chega mais tardio, isso quando não nos deparamos em densos nevoeiros, que só dissipam bem mais tarde.

Nesses dias de anoitecer lúgubre e tempestuoso, em que os telhados se encharcam, deixando a umidade perpassar as suas calhas, penetrando pelos forros ou pingando em nossas camas, nós ficamos como meras caças, que diante das ameaças dos predadores, se encolhem e se escondem sob as mantas a tremer, seja de frio ou de fobias, ou de medo de morrer.

Mas, contudo ou todavia, nós passamos a noite que está bem fria, na esperança que ao raiar do dia, os raios do Sol venham nos aquecer. E aquecer não só com os seus fótons de energia, mas também com o clarear que nos contagia com a esperança e o conforto contra o frio, a nos proteger.

Nesses tempos tão ferinos, que a todos vem machucar, pois há sempre hienas à solta nas savanas, competindo com os leões, que já são tormentos nossos, desde os dias de então, que o País se quis liberto do julgo da colonização, enxergamos só o peso de uma dívida impagável que deixaram como quinhão.

E esse quinhão não é de bênçãos, mas de ônus pra ser livre, como os escravos de outrora ainda pensam em alcançar, pois estão até os dias de hoje a pagar as suas cartas de alforria que não tem prazo a se findar, já que quase todos nós ainda estamos como os judeus a andar para os banhos que não eram de água, mas de gás e de morte torturada, pois não há chance de escalar os muros sociais se não temos as escadas, que em seus degraus, e aos poucos, poderiam trazer todos que estão nos fossos além dos castelos para gozar do muito, que poucos estão a cear.

A escravidão, mesmo que velada, continua em nossas vidas, como se fossemos vítimas de um vampiro, mas que quer nos manter vivos para todos os dias nos sangrar. São veias que sangram em todo o terceiro mundo, onde somos o submundo, sujeito aos restos da casa grande e dos castelos, sem direito até ao que planta, que colhe e que constrói, como quem olha para o todo expressado por Zé Geraldo em sua canção "Cidadão".

É preciso que aprendamos a tomar conta da nossa casa, pois ela é feita de sapé, lá no alto da montanha, onde canta o sabiá. E não aguenta ser o sal das salinas do litoral, que só servem para temperar. Pois as estátuas de sal desmoronam, se olharmos para trás, pois pra frente é que se anda, como um rio em suas cascatas, pois o fogo e o enxofre não perdoam quem se amofina no passado, remoendo a cana por mil vezes para um caldo que ela já não dá.

A nossa casa está numa linda paisagem, pois quem esteve na casinha de sapé e apreciou os verdes vales, lá do alto da montanha, embalado pelo canto dos pássaros, pelos verdes das matas e pelo azul celestial com as estrelas a brilhar, longe daquele inverno que nos serve de aprendizado, sabe muito bem do nosso potencial.

E esse é o tempo de findar o longo inverno, para em lindas primaveras alcançarmos o raiar da luz dos verões, que trarão claridade aos nossos desejos, e vitalidade para enfrentarmos as batalhas que vão surgir, pois nós temos o melhor tempero para alimentar nossos sonhos, que é não sermos mais nada de passado, mas o antigo renovado, para conquistar o mundo, não com ferro, fogo e enxofre, mas com alimentos e esperança, alegria e prazer.

Só precisamos de nobres escolhas, onde nossos guias nas trilhas que embrenharemos sejam o tudo que queremos, para fontes límpidas encontrar, rompendo o mato e os espinhos do caminho, trabalhando direitinho para os olhos marejar. Mas esse marejar vai ser de alegria e de orgulho, não de dor e absurdos, como estamos a testemunhar.

Pois só assim, com a democracia restaurada e vida nova edificada, nos permitirá dizer que ainda temos chance de ver raiar a luz que não nos ofuscará e nem nos permitirá virar estátuas de sal, pois nosso andar será sempre pra frente, com a coragem que somente a felicidade almejará, para um futuro que sempre merecemos ter.

Que todos possamos esquecer as trevas de outrora e buscar na liberdade o diapasão para afinarmos nossos violões, que serão parte da grande ópera a ser tocada no mundo, e que tem na copa de sua grande árvore o verde manto do Brasil, que preza a vida e o respeito, e onde todos possamos viver em paz.

Publicado no Facebook em 17/05/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020
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