MAIO DAS MÃES: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE ESCRAVIDÃO, CAPITALISMO, MATERNIDADE E A CONTINUIDADE DA VIDA.
MAIO DAS MÃES: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE ESCRAVIDÃO, CAPITALISMO, MATERNIDADE E A CONTINUIDADE DA VIDA.
Nos pautamos em dividir o tempo em momentos, seja pra reclamar, seja pra desfrutar.
E a recente história do ser humano na terra, por suas adaptações às conveniências, sejam de poder mandar ou poder ter, muito mais do que realmente deveríamos buscar, que é o ser, vem entremeada de datas, que são marcos ou são lembretes, para os quais deveríamos contemplar todos os dias, como se rotineiramente agradecêssemos o acordar e o dormir, o alimentar e as ações mais básicas do sobreviver, quando podemos usar todos os nossos sentidos e nossos neurônios.
E essa história se pauta em um calendário que entremeia o passado com as tramas da contemporaneidade, criando emblemas para a vida e para manter os estamentos da sociedade moderna, que proclama aos ventos que podemos ter tudo, mesmo que isso seja uma ilusão de ótica que tem levado as pessoas a cometerem as maiores atrocidades, injustiças e loucuras que se possam imaginar.
O mundo está totalmente interligado, diferentemente do passado não tão remoto, onde só vislumbrávamos como real o que podíamos avistar com nossos contidos olhares, de lentes que captam para as catacumbas mais remotas dos nossos depósitos neurais, mas que só nos faz perceber o que é mais externo e superficial. E a tecnologia desses tempos supermodernos nos faz sonhar de que tudo é possível, embora tudo já esteja engendrado, de forma ao ser humano espoliar e extrair de modo servil quase toda a seiva contida nos seus demais semelhantes, com ardis psicológicos, midiáticos, embalados de forma a agradar aos olhos sem ao menos traduzir o que realmente está por trás da cortina denominada liberdade, que é mais uma utopia do que realidade!
O que mudou apenas foi o modo de escravidão. Mudou a maneira de classificarmos socialmente o que deveria ser considerado liberdade ou sua restrição, já que todos sabemos que existem as coisas, os luxos, as tecnologias, as disneylands. Ou para sermos mais práticos, vamos lembrar apenas do último lançamento de um celular, que tanto alvoroço causa no imaginário de qualquer indivíduo, mesmo aquele que não dispõe de recursos financeiros para adquirir, mas é atraído, seduzido, hipnotizado de forma a desejar o que não tem condições de adquirir, e que também não sabe a dura realidade, que é lutar para adquirir algo que nem vai utilizar plenamente, pois muitos dos seus recursos nem terão valia ou só cabem a quem está no topo da pirâmide social e econômica do mundo capitalista.
Nós, que vivemos sob esse pseudo capitalismo, não prestamos atenção para o duro dilema de que quem é realmente capitalista é o dono do capital. O resto é apenas mercadoria humana a ser manipulada por eles, que sugam o suor, a saúde e os anos de vida de cada um de nós, que somos o alicerce desse grande edifício, mas que só tem um apartamento de cobertura, que só é acessível para aquele diminuto e seleto grupo de capitalistas.
Se olharmos com apuro, perceberemos que aposentadoria não foi feita para o capitalista, pois ele não precisa dela, já que é dono de quase tudo. Essa aposentadoria, que quase todos nós lutamos arduamente para conquistar, reflete a nossa fragilidade e pequenez, pois estaremos dependentes dela para tentarmos concluir os nossos dias de vida, quando já não tivermos forças para laborar, para ser a máquina do tear, a usina a gerar energia, ou a massa de bolo ou pão a fermentar. Ao contrário do capitalista, que se locupleta de tudo, como poderíamos usar um jargão popular que nos diz que quem fica rico não trabalha braçalmente, mas apenas com a mente, podemos concluir que de modo geral, salvo as exceções à regra, quem alcançará o topo da pirâmide para se beneficiar da cereja do bolo, serão ínfimos trabalhadores, já que os que se encontram lá desde todo o forjar dessa trama de continuidade da exploração, são os mesmos de sempre, a perpetuar a escravidão que antes tinham a forma do açoite, das correntes, dos pelourinhos ou do vinculo servil à terra e ao local, mas que hoje se traveste de liberdade capitalista, como se todos tivessem os mesmos direitos ou formas de alcançar.
Hoje em dia, se buscam inocular no âmago da nossa percepção social o vírus que transmite um ódio irracional contra os grupos que se organizam por critérios de etnia, de grau de estudo, de local de moradia, de gosto musical, de preferência esportiva, valorizando quase sempre o que já criticamos antes, que é o ter dinheiro e posses, sem percebermos que isso vem subentendido nas chamadas das propagandas, nos fake news tão disseminados, no conteúdo midiático dos filmes, novelas e seriados. Estamos sendo moldados e modelados como um artesão faz com a sua obra de arte, onde ele expressa o que lhe bem entende.
E é nessa esteira similar à produção em série, tão criticada por Chaplin, no filme Tempos Modernos, da época em que as filmagens ainda eram em preto e branco, que temos os momentos sociais atrelados ao querer econômico, gerando todo tipo de comemoração, como o Ano Novo, o Carnaval e o Natal.
Mas hoje, vamos abrir mão de tanto digladiar nessa injusta arena sócio econômica, para elevarmos nossos corações para a grande representação que se busca no mês de maio. Um maio que primordialmente foi uma evocação à deusa romana Maya, mas também à Bona Dea, ambas a decantar a fertilidade, a mulher que gesta e dá continuidade à vida, pela maternidade. E por isso, temos a comemoração do Dia das Mães, que muito embora tenha também o seu apelo capitalista, mas vem nos lembrar o quanto devemos nossas vidas a esses colos, esses úteros, essas trompas e esses seios que alimentam, mesmo sabendo que sozinhos, não somos nada. Mesmo a mulher, com tantos louvores, precisa estar vinculada ao homem, onde Pai e Mãe são importantes.
Mas, os homens padecem dos ranços de sua constituição no mundo, no seu perfil de rudeza perante as intempéries do mundo, brigando o tempo todo contra as adversidades externas ao lar, onde as mulheres, tão sabiamente mães, sempre estiveram a dar a partitura para a orquestra, zelando pelos que nascem e crescem, até poderem se ver aptos para voar.
É esse papel fundamental que louvamos no segundo domingo do mês de maio, onde nos enchemos de graça e júbilo por nossas mães e senhoras, nossas companheiras e amantes, a quem devemos tudo, principalmente respeito, carinho e amor, pois mesmo sabendo-as fortes como os diamantes, temos o dever de as colocarmos nos melhores pedestais ou nos melhores colares, pois elas adornam a tudo, mesmo quando nos repreendem, nos cobram, nos questionam ou nos limitam, pois elas serão para sempre como a Terra para toda a vida que há, que nutre a todos indistintamente, sem cobrar nada em troca, mas apenas o que insistentemente repito: respeito, carinho e amor!
Publicado no Facebook em 10/05/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020