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Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos
TRAMAS DO PORQUÊ E PRA QUE SE VIVE UM CALVÁRIO
TRAMAS DO PORQUÊ E PRA QUE SE VIVE UM CALVÁRIO

Às vezes o homem se vê a imaginar, atravessando as dimensões do tempo e das estações, como se pudessem andar sobre a linha tênue das barreiras do tempo, estando a qualquer momento, vivendo o futuro ou revivendo o passado, como se hipnotizado estivesse, ou tudo de capaz ele fosse, mesmo que só de modo etéreo, sem poder intervir, mas atrás de compreender os meandros dos canais que formam o delta do grande mistério do existir.

Buscaria as perguntas e respostas exatas, que explicassem o porquê e o para quê nascemos, se temos fim ou fins, que seriam opções de morrer, já que não podemos interferir por vontade própria no nosso nascer, que depende de dois, outros seres conectados, ou imbuídos na caracterização e exteriotipação do nosso mostrar, quanto à forma de apresentação nossa, no grande teatro de máscaras da vida.

E é nesse contexto de divagações espirituais ou seriam apenas existenciais, que ele almeja entender o enredo da sua ópera ou sinfonia. Será que ela toca nos teatros e palcos, ou só servem pros parcos recintos insalubres, que se espalham nas encostas dos morros e charcos, cheios de palafitas ou barracos, de descerebrados da Zika a lamentar.

Pois de poesia, nada foi a sua vida, carente de rumo e bússola para navegar entre os astros ou mares do infinito, como sonhavam os antigos, diante do imenso oceano a lamentar. E quando viam sumir mar a dentro os barcos, pensando que bestas e seres malditos furavam seus cascos para tudo afundar. Ficavam aturdidos, pois não imaginavam que algo existisse além do olhar, turvado por ondas de calor ou vapores, como ilusões no deserto, que a tortura da fome e sede, nos faz delirar.

Ele olha para trás, e não vê a linha da vida, mas somente buracos, a desligar as memórias vividas, sem saber os porquês de não poder enxergar. Ele queria ser como as outras pessoas e entender suas fobias, anginas, loucuras, tremuras do corpo e falta de ar. Parece que ele esteve em túneis ou cavernas lúgubres, como Jonas, sacudindo nas entranhas de uma baleia, sem nadar com as sereias, acorrentado ao fundo do mar.

Quem lhe explica o se sentir afogando, tomando um simples banho, dentro de casa, sob as gotas do chuveiro a salpicar. Pois quando a água escorre pelo seu rosto, parece que se fecham seus pulmões, como se fosse uma tortura funesta, pois ele vê a foice da morte em festa, como se tivesse escrito na testa, que seria essa a hora de tudo findar. Ele agoniza bruscamente e procura num desespero obscuro, tirar do seu rosto qualquer gota d'água como se estivesse com a cabeça afundada num balde, sem nem um jeitinho pra poder respirar.

Certa feita, pois esse homem se lembra, estava numa praia, com seus parentes, pro banho de mar se fartar. Mas sempre ele nadava como um cachorrinho, pois o mergulho é funesto, pois ele era da terra e taurino, não prestando pra se esconder no fundo do mar. A intensão era só banhar o corpo, livrando cabeça e também o pescoço, pois todo seu rosto não podia molhar. Só não sabia que o lugar era traiçoeiro, e nas areias da margem submersa da praia tinha um barranco escondido e fundo, pois ele ficava quase sempre em pé dentro da água, para ter a certeza de não mergulhar, tragado por ondas ou levado no tridente de Netuno, fisgado como um peixe sem saber navegar.

E de repente, pisa no fundo como pra tatear, sem ter mais contato da areia e sentir os pés a andar. Se viu descendo, afundando nas águas que não eram de Oxum, pois lá só tinha Iemanjá. E logo engolia, sem nenhuma alegria, a água salgada, a se afogar.

O desespero foi grande e ninguém lhe via pedindo socorro, pra não chafurdar. Mas veio a sorte, distinta senhora que engana a morte, e uma vaga de onda lhe empurrou novamente para beira da areia ele poder pisar.

E daí em diante, ele só molha os pés e nem se adentro mais nas margens, mesmo com águas cristalinas das baías, nem que fosse como numa grande pia. Não se arrisca junto ao mar, que de mistérios quase lhe leva pro abismo, como se fosse para viver sem o juízo, quando hoje é mais preciso, já que a morte parece que lhe corteja sem frescuras.

Sem os velocinos macios para o descanso, que já levaram, deixando espinhos e o capim coçando, não tem nem um leito ou teto próprio, só lamentos, sem direito de poder apreciar a sua família ter orgulho e alegria, pois a vida só lhe trouxe agonia, de desilusões com o que nem sabia, que ele mesmo poderia ter calvário para expiar.

Fazer o bem, tentando ser gentil não adianta, pois a inveja a tudo espanta. E ele se vê como uma corça tendo na jugular, os dentes afiados do jaguar impiedoso, faminto e assombroso, trazendo seu fim, num ardil pavoroso, sem coragem mais para nada, só vendo as sombras e fraqueza anunciando o final da jornada.

Não temeu a vida, pois lutou como um guerreiro, respeitando o inimigo, pois foi pras batalhas da vida, sem escarnecer ninguém. Subiu os morros, cruzou as estradas, salvou vidas acidentadas, perdendo noites a fio, muitas das vezes no frio das madrugadas, ou nas chuvas dos verões ou invernadas.

Trabalhou duro, pensando ser reconhecido e poder ter merecido os sorrisos e agradecimentos dos que tanto sofrem nas jornadas de viagem. Saber ser duro e fiel aos seus princípios, não é fácil e tira dos homens a própria sensação de humanidade, pois nem sempre a lei é a verdade de Deus, mas a vontade dos seres humanos, os quais, nem sempre legislam para o povo, mas apenas pro socorro e benefício próprio das elites, senhoras e deusas nesse mundo.

Hoje, mais maduro e ciente que o futuro é a página do livro que estão a escrevinhar, ele ainda se orgulha de tudo que fez, embora esteja infeliz, sem ter mais forças pra trabalhar. Pois levar tiro e enfrentar o câncer de uma vida, não é uma simples ferida e se cicatrizar.

Incompreendido por quem se diziam companheiros, depois de tantos suados janeiros, só sobraram uns poucos para confiar. Resta a família, berço que ele acalanta, com sua fiel companheira, seus filhos arcanjos e sua filha guerreira, que tanto ele ama, incondicionalmente.

E ele só pede a cura, São Raphael, pra loucura, pois vê em São Gabriel com doçura, tudo a se revelar. E que Deus permita que esse purgatório em que se acha, seja como um filtro necessário para lhe purificar. Tornando-o um homem mais completo, e digno de no colo do Universo poder descansar. Junto com sua árvore de vida, toda completa família, e com os poucos e sinceros amigos contados de dedos, quer um dia festejar, o fim das trevas que perduram nesses dias, que lhe trouxe só apatia e dor na alma, a chorar, como os rios que vertem água aos borbotões, descendo para os grotões, lavando tudo até os rincões, antes de Queronte, o barqueiro de Hades, atravessar o rio Aqueronte, para lhe apresentar.

Publicado no Facebook em 30/04/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020
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