O BERIMBAU E AS ONÇAS NAS ESTEIRAS
O BERIMBAU E AS ONÇAS NAS ESTEIRAS
Éramos crianças, com os sonhos infantis. /
Brincadeiras de esconder e campear, /
Jogar bola, enfincar, voando no balançar, /
Pra nós tudo era feliz. /
Feliz por não ser responsável, /
Nem pelo que faz, nem pelo que diz.
Então surgiu, na ideia de meus jovens velhos, /
Somar comércio com magistérios. /
Enquanto a mãe na escola sempre ia, /
Meu pai buscava o que podia. /
E se juntava a Barto e a Newiton, /
Pro Berimbau tocar sem cordas, um dia.
E esse Berimbau, sem corda ou cabaça, /
Finalmente abriu portas lá na praça, /
Servindo comida, sorvete, chope e cachaça, /
Criando drinques, conquistando na raça, /
Nos dias e noites sem uma trégua, /
Ganhando tudo, menos dinheiro, só pra água.
Foram momentos de trabalho e picardia, /
Onde cunhados separaram seus trabalhos, /
Cada um para o seu lado, /
Só Agnaldo, de alambique entendia./
Continuou, com Chopp 70 e Karlsberg, /
No trabalho era escravo, salvar tudo ele queria.
Era um espaço, da antiga Jequié, /
Prédio dos Grillo e Lamberti em pé, /
Entre bancos e a praça da Águia de Haia, /
Perto do rio, mas longe da praia, /
Onde eu escorregava, em águas de espuma, /
Onças pintadas nas esteiras, eu era um puma.
Puma como uma onça pequena, /
Que adorava quando ia ao Berimbau, /
Fazer faxina, sair do meu quintal, /
E escorregar jogando a água, /
Varrer, lavar, degustar os filés e quitutes, /
Duma negra dengosa, cozinheira magistral.
O local foi decorado, sem dinheiro, como podia, /
Balcão na frente, picolé e sorvete todo dia, /
Bebida autoral, Agnaldo fazia, /
Chamada de Drink Berimbau. /
Até nos lanches, coisa e tal, /
Chegavam baurú, americano, o escambau.
E nas paredes as esteiras decantavam, /
Onças andando, a tudo ornavam, /
Forro de cordas trançadas o teto cobria.
E o povo vinha, lotava tudo, até a pia, /
De pratos, copos e restos de brejas, /
Tira-gostos e a cerveja, era bonito, só se via!
E apesar do final daquela época, /
Que de cansaço quase arrebenta, /
Sai Berimbau, Fuscão que entra. /
Numa nova etapa que na Luiz Viana chega, /
Casa de peças, misturada com oficinas, /
Óleo e graxas, tintas, carros e som pra pêga.
Publicado no Facebook em 26/04/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020