ABORÍGENES, ÍNDIOS E CABRAL
ABORÍGENES, ÍNDIOS E CABRAL
Navegar sob calmarias, rotas ocultas e planos velados, sob o manto de buscar especiarias no oriente, fazem parte do enredo de uma Terra das Araras, que veio a ser Brasil, pindorama tupiniquim.
Cabral não era nenhum menino, apenas visando comprar pimenta do reino ou se esbaldar na rota da seda, ver olhos rasgados, mistérios de panda, de tigres medonhos ou trombas divinas. Ele surge no rastro da história com objetivos traçados com astucia e ardil, visando chegar não primeiro, pois sabemos que nessas plagas já haviam tantos piratas e concorrentes reais, que não tiveram coragem de colonizar tão inóspito e misterioso local, mas chegar inteiro e armado, com cruz, espada e machado, ampliando o domínio marítimo português e buscando manter ou perpetuar sua corte cristã e nababesca, que tinha acordo com o papado para dividir o mundo a conquistar, entre eles e os espanhóis.
Transpor os oceanos para nominar um povo amplo ou impar como traço de uma Índia do oriente, foi mais um ato vil, perpetrado contra povos que não objetivavam a ganância dos metais e minerais ditos como preciosos, somente pela evidencia rara na lavra das rochas.
O certo é que, escravos da presunção de haver direitos diversos do natural que seria, em sermos senhores do mundo, num viés infernal, nos vemos buscando sermos senhores e amos sobre nós mesmos, escravizando nossa própria espécie, em nome de reis, que se diziam divinos, e em nome de Deus, canibalizando a liberdade inocente, dos povos que não idolatravam o que não levam consigo, na viagem celeste da vida sem carne, sem sangue e sem arte, das almas benditas.
São sete mil anos atrás, o momento em que o homem foi capaz de deixar o escambo, trocando o que lhe era necessário e capaz de realizar, para suas necessidades sanar, inventando a ilusão de dar valor ao suor despendido, como se fosse uma bateria, que acumula energia, sem nem saber se vai ter a necessidade de usar.
São caminhos distintos de lisura e usura em ter o que nem vai usufruir, tendo a mais valia de Karl Marx como temática, pois o termo salario deriva do sal, com que se pagava o trabalho nos tempos romanos. E a escravidão se perpetua na figura dos impostos, que deviam ser do lucro, mas recaem sobre o suor dos pseudo libertos, que não se veem escravos, por não se verem enjaulados ou acorrentados como nos tempos de outrora.
O que vemos é a servidão medieval, sobre nova veste, que traveste o servo em liberto empregado, que sobrevive do caldo que escorre das terrinas reais, dos donos dos capitais, que se escondem nas cédulas e no ouro, para enganar os tolos e humildes escravos.
E esses escravos, nas cores do ébano ou do rubi, misturados aos mesmos loiros rosados, dos que não nasceram nos berços de estrelas hipotéticas e sorrateiras de um triste sangue real, como se fosse normal, são obrigados a mudar a essência da alma, tirando-lhes seu amago divino, que não vê a necessidade natural exigir opulência e ganancia, nem algum pecado dito como capital. Acabam sujeitos ao seu semelhante, presos no fio de barbante da ignorância perpetrada e difundida para espoliar a fortuna da saúde de todos, em nome da segurança de viverem, ou realmente apenas sobreviverem.
E num dia em que a floresta saúda o aborígene, suas árvores e bichos, seus peixes e seu nicho, encontramos Oxóssi, provedor da família, que caça nas trilhas em busca do sustentar a todos, sem distinção e alvoroço, sem enganar e torturar os sinceros e perfeitos senhores do nosso planeta, que somos nós mesmos sob as bênçãos divinas, sob o estigma da nomenclatura de índios, num dezenove de abril.
Se aconchegam num único mês, dia do índio e descobrimento, mas encontramos entre esses eventos os restos espalhados na estrada, real de fachada, de um dilacerado guerreiro, que lutou contra a derrama do ágio que se sugava do suor brasileiro, mas se viu enforcado pela ganancia real. Se Cabral não houvesse, talvez estivesse esse mundo mudado.
Mas sabemos também que o índio era nômade e vivia do extrativismo de frutos, caça, pesca e cultivavam tubérculos para se alimentar. Não havia a necessidade de ostentação, salvo o usar das penas das aves e o couro de animais como adorno.
É necessário repensarmos nossas vidas, voltando os olhos para a Índia, não de Cabral ou um maluco real, mas para a Índia de Alexandre Magno, o humano helênico que demonstrou para todos que nada levamos para o descanso eterno do corpo que sangra e putrefa, nutrindo a rainha mãe terra. Ou podemos nos ater ao exemplo de Aquiles e seus mirmidões, que lutavam apenas pela gloria na eternidade.
Porém, a gloria aquileana demandava as guerras, que nos confrontam, evocando ódios e invejas que não nos levam a lugar algum, a não ser de uma pira ardente ou até numa cova profunda ou rasa, mas que nos cala o orgulho, a ganância e o tudo.
O que devemos buscar, com pressa ou não, é viver ou morrer com caráter, em respeito ao nosso semelhante e descendentes, sendo éticos no agir, desabrochando amor, pois mesmo na dor, devemos a Deus o tributo de mantermos a casa em ordem e pronta.
Fica para alguns, recriar um País, com justa justiça, sem presunções de culpa ou inocência, dando clemência ao povo sofrido, doente e descrente, que trabalha arduamente apenas para sobreviver, sem quase nada ter, vivendo sem teto, sem escolas, sem segurança e com fome, do corpo e da alma, que clama por um dia com menos dor, estresse e depressão, para seus descendentes poderem um dia sonhar com alvissareiros dias, fora das catacumbas escuras em que vivemos agora e desde outrora.
Publicado no Facebook em 19/04/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020