SINUOSIDADE E PRECIPÍCIOS - OCASO DO NASCER PELA DOR NO VIVER
SINUOSIDADE E PRECIPÍCIOS - OCASO DO NASCER PELA DOR NO VIVER
Quando rebentos, mesmo ainda na bolsa placentária /
nos precipitamos do ventre, dias antes ou depois /
E mesmo sem termos uma indumentária /
Chegamos sozinhos ou gêmeos, quem sois? /
Chegar bem na hora faz bem às glândulas mamarias /
Pois voraz é quem antecipa ou fica, ora pois /
Num esforço que atinge as avós sexagenárias /
Quem manda parir bem antes ou depois? /
Gritando e mexendo, lá vai Januária /
Embalada, quem sabe, na polenta, guisado e arroz /
E se veja embriagada na também Januária /
Velha cachaça que se toma antes ou depois. /
A parida é algo de fiel fundamento /
Utilizamos tudo com muito fervor /
Junte a losna, poejo, alecrim, e mexa um tempo /
Lá vem o alho, o mel e a cebola, que ardor! /
Água d'alevante, arruda, erva doce, um momento /
Não se esquecendo nem só por um amor /
Que nas senzalas o suor goteja, sem vento /
Tornou-se a pinga, seu maior invento /
O qual iludiu o escravo e o feitor.
E na serpentina, escorre o rebento, /
O que dá fervura à cana caiana, /
Que apaixona ao som turbulento /
tambor do transe em êxtase, baiana. /
Sinuosa no samba de roda,
Que sequela os grilhões das correntes /
precipício de vida e de dor! /
O qual marca a escravidão dos seus entes /
Como um holocausto com gás e furor. /
E é na roda, chocalho, atabaques, /
Que o louvor aproxima as pessoas. /
E interagem no saber das artes, /
Com que traduzem as mensagens mais boas. /
Olhar trovão, e seus raios medonhos, /
Que nos assusta com todo clarão. /
Nos faz lembrar da forja dos sonhos, /
Com ferro e fogo que rompe o sertão. /
E no colo das mães parideiras, /
Que se atrevem nos rios e mar/
O leite é farto que entorna nas beiras, /
Criando erês, querubins a fartar. /
Se não entrássemos no mato das folhas, /
Com a medicina dos velhos pajés. /
Não viveríamos a saúde do unguento, /
Seriam sarnas, feridas e bolhas, /
A nos marcar e esconder quem tu és. /
E desde os idos longínquos, longevos, /
Que é da caça o fiel provedor. /
Que nutre o povo com amor, Cálix Bento, /
Que enche o odre e os fardos singelos, /
Com água, comida, alegria e amor.
E é nas chuvas, arco íris, orvalho, /
Que descobrimos o ouro reflexo. /
Em sete cores, gotas e vapor, espalho /
Que escorrego ondulando, convexo./
Viemos ao mundo, ao furor dos tormentos, /
Para enfrentar tornados e rancor. /
Nos defrontarmos com ardis sem lamento, /
De traições que nos leva à morte, um momento. /
A solução pros convictos, tristes na dor!
Como diriam os socráticos, sem temor, de uma vez /
Mais vale a honra e o despir da ganância /
Ao enfrentar a cicuta com altivez /
Pois é melhor partir com orgulho, sem ânsia./
Pra eternidade só se vai uma vez.
Enfim, tristeza da alma é um sem fim, já que a felicidade e a vida, sim!
Publicado no Facebook em 16/04/2018
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020