ÍCARO E A LIBERDADE PARA VOAR
ÍCARO E A LIBERDADE PARA VOAR
Como deveria ter sido o voo de Ícaro com suas asas postiças, se não fosse a fragilidade das ceras que derreteram filosoficamente, já que muito longe do astro rei ainda estaria?
Planar sobre os campos e mares, ao sabor das águias altaneiras ou do condor sobre os Andes.
Será que teríamos a visão penetrante de uma ave de rapina? Ou seríamos como as cobras, sem enxergar com apuro, mas compensando esse sentido com o do olfato ou a grande sensibilidade na percepção do que se movimenta?
Há quem diga que uma pessoa que porte uma arma e esteja próximo a uma serpente venenosa, quando decide disparar um projétil contra a cabeça da cobra, logo a acerta. Mas não é pelo pressupor de que o atirador tenha boa mira que o disparo seja certeiro, mas pela agilidade do reflexo da cobra perante algo que se movimenta em sua direção, num instinto automático de defesa.
Assim mesmo, contrastando a águia e a cobra, quem vence um duelo quando a natureza tem o dom de camuflar até uma nambu que se aconchega na folhagem, diante de iminente perigo, fazendo com que o caçador passe ao lado dela sem a perceber?
Como seria a alegria de Dédalo, neto de Ares, se Ícaro tivesse sido prudente e obediente? Afinal, escapar do labirinto de Creta e do Minotauro, não fora uma tarefa das mais fáceis e exigiu obstinação e grande anseio por liberdade.
Mas liberdade nos impõe responsabilidade, do que careceu Ícaro, que ao se deixar fascinar pelo brilho do Sol, viu o seu sonho de liberdade se findar nas profundezas do mar Egeu.
A todos nós, seres sociais e sempre dependentes das nossas interações, cabe sempre uma grande reflexão sobre nossas atitudes, que podem ser turvas, como o sangue que bombeiam nossos corações, os quais se deixam levar pelas emoções, ou límpidas como as águas que escorrem de um degelo glacial.
E que essas atitudes se permeiem pela racionalidade nas ações, com a temperança necessária, como se estivéssemos a contemplar calmamente o voo estático de um colibri, quando beija o amago de uma flor, na busca do seu néctar, e se deixa perceber imóvel, embora esteja com suas asas a tremular velozmente.
Pensemos como Ícaro, buscando a liberdade, mas lembrando de Dédalo também, para que a busquemos com bastante prudência e serenidade, desfrutando da vivencia que nos é presenteada.
Pois, enfim, nosso voo de vida será sempre como estarmos viajando numa pequena aeronave, que tremula nas turbulências, mas que rompe as nuvens e se mostra ao infinito, com o direito de brilhar sob o Sol ou o luar, antes do pouso inevitável do final de nossas viagens.
Publicado no Facebook em 14/04/2018.
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/04/2020