A CIDADE É JAULA E PRISÃO
A cidade só vive com prosperidade,
E o povo é feliz com renda e paz,
Pois depõe contra a necessidade,
Da fome eterna no corpo que jaz.
Os humanos precisam se unir,
Pois não são feito ermitões,
Carecendo de saber onde ir,
Mas sozinhos serão só anões.
Avareza não nutre os filhos,
Nem se agrada de vinho e pão,
E por isso somos andarilhos,
À procura do amor de um irmão.
O sonho guardado enlouquece,
Mas conversa demais dói barriga,
E por isso escrevo minha prece,
Para um dia servir na partida.
Imaginem um poeta em velório,
Mas lhe ouça por sua mensagem,
Pois o amor quer o repositório,
Do valor de quem fez a passagem.
Mas se um dia se for o poeta,
Leia tudo que ele escreveu,
Até mesmo se o anacoreta,
Esqueceu tudo que já se leu.
Cada letra ou estrofe escondida,
Será vista como um camafeu,
Pois terá sua mensagem ouvida,
Ou dirá o que não prometeu.
Eu prefiro uma vila de verdade,
Onde eu olhe na cara do povo,
E quem vai nos deixa saudade,
Por querer viver tudo de novo.
A cidade grande é um deserto,
Pois todos são muito estranhos,
Como o chão que vive coberto,
Por fumaça ou medo medonho.
Toda casa é jaula e prisão,
Cada rua é como prostíbulo,
Pois se não há fé ou perdão,
Cada esquina será um patíbulo.