SOMOS OCASO
Quando o livro não mais existir,
Talvez a página se volte ao oral,
Porque a metáfora de abduzir,
Será o sal de Mar Morto ou Aral.
Tudo um dia será só petróleo,
Feito da carne e osso humano,
Desde que o alimento é o ódio,
E nada virá depois do engano.
Já disseram que guerra traz paz,
Só esqueceram da morte que cala,
Seja na tumba ou em Alcatraz,
A nossa vida é ponto na escala.
Somos ocaso dessas gerações,
Pois querem bombas explodindo,
E não teremos mais as estações,
Nem o céu virá ressurgindo.
Sem as manhãs, lá se vão os galos,
E os vagalumes serão sem a luz,
Sem ter o vinho pra nosso regalo,
Porque as uvas serão só de pus.
Só a explosão nuclear é simplista,
Porque ainda persistem ilusões,
Mas a carência de todo fascista,
É que a guerra lhe traga emoções.
Talvez na sociopatia se explique,
Pois só entendo viver como irmão,
Mas povo em guerra é um chilique,
Por só ter medo sem arma na mão.
Mas com a arma é tudo exagero,
E as chacinas dirão que é normal,
Pois acham que será passageiro,
Só não percebem o dano do mal.
Quando o gatilho for acionado,
Não haverá nem mais o amanhã,
Já que o corpo será calcinado,
Sem mais história ou vida pagã.
E o engraçado será só o nada,
Pois não teremos direito ao riso,
Nem mais o silo para invernada,
Que não será por falta de aviso.
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