DIAS DE POESIA
Ter dia de poesia é no agora,
Por estar noutro lado do muro,
Pois um lado é de Pandora,
Mas no outro é onde eu pulo.
Mas no pulo fui mais que o gato,
Desde que o poema foi sete,
Sete ondas em versos de fato,
Com fonemas em tudo que veste.
Vestir roupa no corpo flechado,
É dizer que tem blusa rasgada,
Mas a colcha terá meu retalho,
Desde o dia que for pela estrada.
Costurei cada curva com orvalho,
Navegando pela fria alvorada,
Mas há gelo na folha que guardo,
Rabiscada desde a invernada.
Só não lembro o dia do risco,
E se foi com os dentes-de-sabre,
Desde quando vivi como grifo,
Ou seria um mamute, quem sabe!
Desde quando saí do meu Castro,
E os celtas embalaram meu sino,
Que me valho de Castro Alves,
A mostrar nosso triste destino.
Somos sombras e navio negreiro,
E também cada voz pretendida,
Com a saudade do mato trigueiro,
Que em África foi minha guarida.
Com a Bahia, mesmo no chicote,
Enfrentei Pelourinho e as bragas,
Como Celta ou preto que morre,
Pelo império do medo que traga.
Até quando eu não sei, poetizo,
Pois é certo que um dia me vou,
Mas renasço na fênix e aviso,
O que sou mas você não notou.
Então, leia meus versos no piso,
Onde andei a marcar na argila,
Que o tempo deixou por inciso,
Pois a areia foi rocha e vida.
Tu verás que não tive a sorte,
Ou seria o azar das comendas,
Pois coroa e príncipe consorte,
Só valem no mundo das lendas.