COMO CELACANTO, TORNEI-ME GENTE!
Era bem fundo o oceano,
Onde eu andei escondido,
E vivi por milhões de anos,
A olhar cada plano urdido.
Como um celacanto, guardei,
A história do mar recôndito,
Pois tornei-me gente ou rei,
E Netuno me fez explêndido.
Nossa terra guarda segredos,
Camuflada por lagos e luar,
Pois os rios lavam meus medos,
Que se guardam em brejo e mar.
Foi de lá que sai pra ter pés,
Desde quando aprendi a andar,
Pois nas serras ou igarapés,
Eu desfruto até se for voar.
Isso tudo resulta em encanto,
De ter vida brotando da nata,
Porque somos o leite do canto,
Mas orquestra não dá serenata.
E meu canto só traz poesias,
Pois eu rimo enquanto declamo,
Tudo ao gosto de ter fantasias,
Ou a saudade de tudo que amo.
Mas no mundo há réu e carrasco,
Ou também inocência e fogueira,
E um cordeiro imolado no pasto,
Ou no alto da cruz de madeira.
Esse é o mundo de ontem e agora,
Com discórdia querendo fortuna,
Mas, de hoje, não há mais anágua,
Nem mesmo índio usando borduna.