COMO CONCEBER UM LUGAR
O Cosmo é mais que um espaço,
Porque se converge no tempo,
E tem muito mais do que faço,
Pois lá fora não vejo o vento.
Mas isso não basta no vácuo,
Pois há os mistérios da força,
E em toda energia de um parto,
Vejo como a vida é tão louca.
Como conceber o que se cria,
Quando não há fábrica e torno,
Ou como aquecer a cama fria,
Numa casa em cima do morro.
Imaginem um lugar escarpado,
Onde a sala não tenha lareira,
Muito menos o gás encanado,
Ou lá fora com uma fogueira.
Se o local for pelos trópicos,
Menos mau, pois temos calor,
Mas se for em ares exóticos,
Talvez queira viver no equador.
Quando fui perto de um polo,
Era sul e durante o inverno,
E sofri como a cria sem colo,
Ao me ver sem a lã de um terno.
Só garoa e o ranger de dentes,
À procura de um bom chimarrão,
Como estive lá em Tiradentes,
A tomar só conhaque e quentão.
Mas agora, que já não bebo,
Só fervendo chá e chocolate,
Senão, morro logo de medo,
Se o couro não tem alfaiate.
Foi assim que vovó fez crochê,
Se a pele de urso não havia,
Pois é fácil um nenê conceber,
Mas sem frio e barriga vazia.
E não pense ser bom o calor,
Pois sertão assa ovo no chão,
E ser rico não terá seu valor,
Se não tiver nem leite e pão.
De que adianta ter carros,
Se o motor não tiver energia,
Ou até ser um índio navarro,
No enterro em terra baldia.
Por isso, só serve a união,
Muito mais do que esmeralda,
Pois assim nós temos nação,
E a virtude será festejada.